5 de agosto de 2016

JORNAIS CULTURAIS ALTERNATIVOS NAS DÉCADAS DE 70 E 80 EM NATAL



CARLOS FREDERICO DE O. L. DA CÂMARA — CARLOS ASTRAL —

Os jornais culturais alternativos fogem ao padrão dos jornais comuns (que tem estrutura técnica e econômica possibilitadora de uma longa existência através dos anos). Portanto os jornais culturais alternativos, por sua precariedade técnica e econômica, duram pouco tempo.
A aventura fantástica do mundo fabuloso, mágico e espetacular dos jornais culturais alternativos em Natal, está como protagonista nas páginas do livro GERAÇÃO ALTERNATIVA – Antilogia Poética Potiguar, anos 70/80, organizado por Jota Medeiros (Amarela Edições/PROFINC, Natal, 1997).
No início da década de 70, floresceu em Natal esta cultura de desenvolvimento à margem, entre nós. Assim como em todos os estados do Brasil, surgiu em Natal grande quantidade de pequenas publicações, numa verdadeira explosão que poderia ser admitida como uma forma de resistência alternativa. O teor dessas pequenas publicações, também conhecidas pelos rótulos de imprensa marginal, independente, nanica e de mimeógrafo, era dos mais abrangentes, indo do humorismo à poesia, passando por temas como ecologia, homossexualismo, negritude, feminismo, política, quadrinhos, teatro, cinema e tantos outros temas, mas a esmagadora maioria era a poética. Ainda hoje a imprensa alternativa subsiste principalmente na internet, revelando que esse espírito de oposição nunca deixou de existir. Muitas das obras que circularam nessas publicações estão hoje editadas por grandes editoras, à venda nas livrarias dentro do sistema convencional.
Os anos setenta são representados por uma nova geração dos jornais e revistas culturais alternativos que abrange toda a década de 80. Em 1972, surgiu a primeira edição do jornal tipográfico O SISTEMA, do chamado «Movimento Tensorial», o qual teve apenas dois números editados e tiragem aproximada de 100 exemplares, com participações do poeta, escritor e professor do curso de filosofia da UFRN, Rubem G. Nunes, e dos poetas Enoch Domingos e Tomáz Silveira. Em 1974, o jornal alternativo O CARCARÁ, editado por Racine Santos e, no ano seguinte, o JORNAL DA PRAIA, editado por Racine Santos e Osório Almeida, do qual circularam apenas três edições. Outro jornal, LETREIRO, foi iniciativa dos estudantes do curso de Letras da UFRN, tendo à frente os poetas Carlos Humberto Dantas e Anchella Fernandes.
A década de 80 se caracterizou com uma forte e atuante presença das publicações alternativas. No início da década é publicado o jornal-poster DITO E FEITO, editado e coordenado pela escritora, poeta e professora da UFRN Socorro Trindad, com cinco números editados. Era uma publicação do Laboratório de Criatividade Literária, projeto experimental da UFRN com a participação de jovens autores. Em 1983 é publicado o jornal HOTEL DAS ESTRELAS, tendo como editor o jornalista Daniel do Carmo e diretor e colaborador Véscio Lisboa (Subhadro), entre outros. Esse jornal teve apenas um número publicado, com formato tablóide, trazia poesias, ilustrações, quadrinhos, filosofia indiana, etc. Em 1984 surge a folha RANGAL, editada por Osório Almeida. O primeiro número, defendendo o direito dos índios com um manifesto em encarte especial e papel couché, teve a tiragem de 1.000 exemplares esgotada. Foram 26 números, com poesias da geração dos anos 80 e textos de pensamento político novo. Osório Almeida publicou também a folha AUTOEDIÇÃO com dez anos de existência e 86 números publicados, jornal político-literário com patrocinador fixo, e a folha BRASIL DE ESQUERDA, 85 números, literário, ecológico e poesias. A FOLHA POÉTICA, de tamanho ofício, tiragem de 500 exemplares e periodicidade mensal, circulou 28 números, publicação e edição do poeta Aluízio Mathias, além das colaborações de outros poetas.
No mesmo período circulou a folha poética & política LUMIAR, idealizada por João Barra em parceria com Flávio Américo Novaes, fotógrafo e programador visual, teve 5 edições com tiragem de 500 exemplares. Registre-se ainda no início da década o jornal cultural de trovas A TROMBÊTA, editado mensalmente pelo primeiro presidente da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte, Sebastião Soares. Jornal metade ofício, com longa duração, tiragem de 500 exemplares e periodicidade mensal com mais de 200 edições publicadas. Era distribuído gratuitamente entre seus colegas de academia de trovas do Rio Grande do Norte e de academias de outros estados. Destaque para a logomarca do anjo tocando trombeta, cheguei a possuir alguns exemplares ofertados pelo meu amigo Sebastião Soares (in memoriam).
O jornal DELÍRIO URBANO, idealizado pelo poeta Carlos Astral e colaborações de outros. Circulou com 3 edições em tamanho ofício, com 8, 12 e 16 páginas respectivamente, tiragem inical de 500 e por último 1.000 exemplares, ao preço de CR$ 5.000,00 e periodicidade bimestral (1985/1986). Esse jornal revolucionou os meios intelectuais da cidade. Seguindo uma linha de vanguarda e dono de uma diagramação inteligente, com textos interessantes, ilustrações, grafites, charges, fotos, opiniões, poesias underground e entrevistas. Jornal THE ACTION FILE, produzido pelos universitários Rodrigo Hammer e Carlos Henrique Leiros, especializado em Rock (Progressivo, Hard, Punk, anos 60). Foi o primeiro fanzine de música publicado no RN, em formato A4, bimestral e xerocado. Surgiu como um catálogo de gravações em fita K-7 chamado «Rock in RollAction» e teve aproximadamente 12 edições.
Também na década de 80, diversos folhetos foram editados pelo professor, tradutor e poeta Haroldo J. B. Silva (Sopa d’Osso), como o DIÁRIO PUNK DE NATAL, NATAL PUNK e A VOZ DO ÓDIO, material em xerox distribuído gratuitamente com a comunidade acadêmica da época, em eventos intelectuais e com os amigos em bares da cidade. A VOZ DE CANDELÁRIA, depois FOLHA DE CANDELÁRIA, mensal, publicada em 1989 com 20 edições e tiragem de 1.000 exemplares. Colaboravam Guto de Castro, Genildo Antunes, Marcos Antonio e outros, abordando cultura, poesias e perfil da comunidade, atualmente está ligado ao CONACOM, associação do bairro.
Destacamos aqui o jornal trovadoresco ALMENARA, do trovador e professor Rodrigues Neto, jornal de trovas, poesias e ilustrações, distribuído gratuitamente e com tiragem de 500 exemplares. Rodrigues Neto publicou ainda os jornais de trovas ALBOR, GERMINAL e TROVAVOANDO. Citamos também o jornal de trovas TROVA VIVA, editado por Joamir Medeiros, trovador e membro da academia de trovas do RN; O SEGREL, editado pelo trovador e membro da academia de trovas do RN, Francisco Bezerra (in memoriam), distribuído gratuitamente com seus amigos trovadores do RN e do Brasil, com mais de 50 edições e tiragem de 200 exemplares e o TERRA NATAL, do trovador premiado e membro da academia de trovas do RN, Reinaldo Aguiar (in memoriam).
O jornal A MARGEM (1985/2005) marcou época em Natal, com edição do poeta visual Falves Silva e do jornalista, crítico literário e poeta visual Anchieta Fernandes e participações dos poetas Charlier Fernandes, Franklin Capistrano, Moacy Cirne, Marcos Silva, Véscio Lisboa e outros. Esse jornal veiculou e divulgou a poesia visual e a arte correio no Brasil e no mundo. No ano de 1987 temos a publicação do jornal T A O, em tamanho ofício e 4 páginas, jornal lítero-cultural abordando astrologia, filosofia e ciências, circulou apenas 2 edições. Coordenado por Edilson Maciel e tendo como editor o jornalista Luciano Almeida, era composto nas oficinas da extinta COOJORNAT – Cooperativa dos Jornalistas de Natal, com tiragem de 500 exemplares.
A partir do ano de 1986 edita-se a folha BALAIO INCOMUM, dirigida pelo poeta Moacy Cirne, professor da Universidade Federal Fluminense (RJ) e um dos fundadores do movimento do poema-processo. Registramos no final da década de 80 o jornal A FRANGA, um jornal «sêmen anárquico» com textos, fotografias e ilustrações. Esse jornal, de formato ofício e periodicidade trimestral era vendido ao preço de Cr$ 1.000,00. Idealizado por Abimael Silva, Dorian Lima e outros, criticava o jornal cultural «O Galo», da Fundação José Augusto. No final dos anos 80 circulou também o jornal humorístico CEBOLA FAZ CHORAR (1988/89) que fazia sátiras aos colegas estudantes da UFRN. Eram seus editores Isaac Ribeiro, Carlos Magno Araújo e Robson Medeiros, entre outros colaboradores. Ainda no final da década publicou-se o jornal ARROCHA O COLORAU, em formato tablóide, editado por Miranda Sá e com Osório Almeida entre os colaboradores. Jornal crítico-humorístico e literário, teve 3 edições e era vendido nas bancas de jornais e em livrarias da cidade de Natal.
            A principal característica dos jornais culturais alternativos é que eles trabalham a notícia de forma em que se abre um espaço maior para discussão da democratização da informação. Com a chegada do computador popularizado a preço acessível, então surgiram os jornais culturais alternativos online, que, podemos dizer, são os substitutos de hoje dos jornais alternativos impressos.

FONTES: MEDEIROS, J. (Org.). Geração Alternativa – Antilogia Poética Potiguar, anos 70/80 (Amarela Edições/ PROFINC, Natal, 1997); MELO, Manoel Rodrigues de Melo. Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte – 1909-1987 (Cortez Editora/FJA, 1987); Coleções e Acervos – Imprensa Alternativa – Sandra Alves Horta (Internet)

Nenhum comentário:

Postar um comentário