CARLOS
FREDERICO DE O. L. DA CÂMARA — CARLOS ASTRAL —
Os jornais culturais alternativos fogem ao
padrão dos jornais comuns (que tem estrutura técnica e econômica
possibilitadora de uma longa existência através dos anos). Portanto os jornais
culturais alternativos, por sua precariedade técnica e econômica, duram pouco
tempo.
A aventura fantástica do mundo fabuloso, mágico
e espetacular dos jornais culturais alternativos em Natal, está como protagonista
nas páginas do livro GERAÇÃO ALTERNATIVA – Antilogia Poética Potiguar, anos
70/80, organizado por Jota Medeiros (Amarela Edições/PROFINC, Natal, 1997).
No início da década de 70, floresceu em Natal
esta cultura de desenvolvimento à margem, entre nós. Assim como em todos os
estados do Brasil, surgiu em Natal grande quantidade de pequenas publicações,
numa verdadeira explosão que poderia ser admitida como uma forma de resistência
alternativa. O teor dessas pequenas publicações, também conhecidas pelos
rótulos de imprensa marginal, independente, nanica e de mimeógrafo, era dos
mais abrangentes, indo do humorismo à poesia, passando por temas como ecologia,
homossexualismo, negritude, feminismo, política, quadrinhos, teatro, cinema e
tantos outros temas, mas a esmagadora maioria era a poética. Ainda hoje a
imprensa alternativa subsiste principalmente na internet, revelando que esse
espírito de oposição nunca deixou de existir. Muitas das obras que circularam
nessas publicações estão hoje editadas por grandes editoras, à venda nas
livrarias dentro do sistema convencional.
Os anos setenta são representados por uma nova
geração dos jornais e revistas culturais alternativos que abrange toda a década
de 80. Em 1972, surgiu a primeira edição do jornal tipográfico O SISTEMA, do
chamado «Movimento Tensorial», o qual teve apenas dois números editados e
tiragem aproximada de 100 exemplares, com participações do poeta, escritor e
professor do curso de filosofia da UFRN, Rubem G. Nunes, e dos poetas Enoch
Domingos e Tomáz Silveira. Em 1974, o jornal alternativo O CARCARÁ, editado por
Racine Santos e, no ano seguinte, o JORNAL DA PRAIA, editado por Racine Santos
e Osório Almeida, do qual circularam apenas três edições. Outro jornal,
LETREIRO, foi iniciativa dos estudantes do curso de Letras da UFRN, tendo à
frente os poetas Carlos Humberto Dantas e Anchella Fernandes.
A década de 80 se caracterizou com uma forte e
atuante presença das publicações alternativas. No início da década é publicado
o jornal-poster DITO E FEITO, editado e coordenado pela escritora, poeta e
professora da UFRN Socorro Trindad, com cinco números editados. Era uma
publicação do Laboratório de Criatividade Literária, projeto experimental da
UFRN com a participação de jovens autores. Em 1983 é publicado o jornal HOTEL
DAS ESTRELAS, tendo como editor o jornalista Daniel do Carmo e diretor e
colaborador Véscio Lisboa (Subhadro), entre outros. Esse jornal teve apenas um
número publicado, com formato tablóide, trazia poesias, ilustrações,
quadrinhos, filosofia indiana, etc. Em 1984 surge a folha RANGAL, editada por
Osório Almeida. O primeiro número, defendendo o direito dos índios com um
manifesto em encarte especial e papel couché, teve a tiragem de 1.000
exemplares esgotada. Foram 26 números, com poesias da geração dos anos 80 e
textos de pensamento político novo. Osório Almeida publicou também a folha
AUTOEDIÇÃO com dez anos de existência e 86 números publicados, jornal
político-literário com patrocinador fixo, e a folha BRASIL DE ESQUERDA, 85
números, literário, ecológico e poesias. A FOLHA POÉTICA, de tamanho ofício,
tiragem de 500 exemplares e periodicidade mensal, circulou 28 números,
publicação e edição do poeta Aluízio Mathias, além das colaborações de outros
poetas.
No mesmo período circulou a folha poética &
política LUMIAR, idealizada por João Barra em parceria com Flávio Américo
Novaes, fotógrafo e programador visual, teve 5 edições com tiragem de 500
exemplares. Registre-se ainda no início da década o jornal cultural de trovas A
TROMBÊTA, editado mensalmente pelo primeiro presidente da Academia de Trovas do
Rio Grande do Norte, Sebastião Soares. Jornal metade ofício, com longa duração,
tiragem de 500 exemplares e periodicidade mensal com mais de 200 edições
publicadas. Era distribuído gratuitamente entre seus colegas de academia de
trovas do Rio Grande do Norte e de academias de outros estados. Destaque para a
logomarca do anjo tocando trombeta, cheguei a possuir alguns exemplares
ofertados pelo meu amigo Sebastião Soares (in memoriam).
O jornal DELÍRIO URBANO, idealizado pelo poeta
Carlos Astral e colaborações de outros. Circulou com 3 edições em tamanho
ofício, com 8, 12 e 16 páginas respectivamente, tiragem inical de 500 e por
último 1.000 exemplares, ao preço de CR$ 5.000,00 e periodicidade bimestral
(1985/1986). Esse jornal revolucionou os meios intelectuais da cidade. Seguindo
uma linha de vanguarda e dono de uma diagramação inteligente, com textos
interessantes, ilustrações, grafites, charges, fotos, opiniões, poesias
underground e entrevistas. Jornal THE ACTION FILE, produzido pelos
universitários Rodrigo Hammer e Carlos Henrique Leiros, especializado em Rock
(Progressivo, Hard, Punk, anos 60). Foi o primeiro fanzine de música publicado
no RN, em formato A4, bimestral e xerocado. Surgiu como um catálogo de
gravações em fita K-7 chamado «Rock in RollAction» e teve aproximadamente 12
edições.
Também na década de 80, diversos folhetos foram
editados pelo professor, tradutor e poeta Haroldo J. B. Silva (Sopa d’Osso),
como o DIÁRIO PUNK DE NATAL, NATAL PUNK e A VOZ DO ÓDIO, material em xerox
distribuído gratuitamente com a comunidade acadêmica da época, em eventos
intelectuais e com os amigos em bares da cidade. A VOZ DE CANDELÁRIA, depois
FOLHA DE CANDELÁRIA, mensal, publicada em 1989 com 20 edições e tiragem de
1.000 exemplares. Colaboravam Guto de Castro, Genildo Antunes, Marcos Antonio e
outros, abordando cultura, poesias e perfil da comunidade, atualmente está
ligado ao CONACOM, associação do bairro.
Destacamos aqui o jornal trovadoresco ALMENARA,
do trovador e professor Rodrigues Neto, jornal de trovas, poesias e
ilustrações, distribuído gratuitamente e com tiragem de 500 exemplares.
Rodrigues Neto publicou ainda os jornais de trovas ALBOR, GERMINAL e
TROVAVOANDO. Citamos também o jornal de trovas TROVA VIVA, editado por Joamir
Medeiros, trovador e membro da academia de trovas do RN; O SEGREL, editado pelo
trovador e membro da academia de trovas do RN, Francisco Bezerra (in memoriam),
distribuído gratuitamente com seus amigos trovadores do RN e do Brasil, com
mais de 50 edições e tiragem de 200 exemplares e o TERRA NATAL, do trovador
premiado e membro da academia de trovas do RN, Reinaldo Aguiar (in memoriam).
O jornal A MARGEM (1985/2005) marcou época em
Natal, com edição do poeta visual Falves Silva e do jornalista, crítico
literário e poeta visual Anchieta Fernandes e participações dos poetas Charlier
Fernandes, Franklin Capistrano, Moacy Cirne, Marcos Silva, Véscio Lisboa e
outros. Esse jornal veiculou e divulgou a poesia visual e a arte correio no
Brasil e no mundo. No ano de 1987 temos a publicação do jornal T A O, em
tamanho ofício e 4 páginas, jornal lítero-cultural abordando astrologia,
filosofia e ciências, circulou apenas 2 edições. Coordenado por Edilson Maciel
e tendo como editor o jornalista Luciano Almeida, era composto nas oficinas da
extinta COOJORNAT – Cooperativa dos Jornalistas de Natal, com tiragem de 500
exemplares.
A partir do ano de 1986 edita-se a folha BALAIO
INCOMUM, dirigida pelo poeta Moacy Cirne, professor da Universidade Federal
Fluminense (RJ) e um dos fundadores do movimento do poema-processo. Registramos
no final da década de 80 o jornal A FRANGA, um jornal «sêmen anárquico» com
textos, fotografias e ilustrações. Esse jornal, de formato ofício e
periodicidade trimestral era vendido ao preço de Cr$ 1.000,00. Idealizado por
Abimael Silva, Dorian Lima e outros, criticava o jornal cultural «O Galo», da
Fundação José Augusto. No final dos anos 80 circulou também o jornal
humorístico CEBOLA FAZ CHORAR (1988/89) que fazia sátiras aos colegas
estudantes da UFRN. Eram seus editores Isaac Ribeiro, Carlos Magno Araújo e
Robson Medeiros, entre outros colaboradores. Ainda no final da década
publicou-se o jornal ARROCHA O COLORAU, em formato tablóide, editado por
Miranda Sá e com Osório Almeida entre os colaboradores. Jornal
crítico-humorístico e literário, teve 3 edições e era vendido nas bancas de
jornais e em livrarias da cidade de Natal.
A principal característica dos
jornais culturais alternativos é que eles trabalham a
notícia de forma em que se abre um espaço maior para discussão da
democratização da informação. Com a chegada do computador popularizado a preço
acessível, então surgiram os jornais culturais alternativos online, que,
podemos dizer, são os substitutos de hoje dos jornais alternativos impressos.
FONTES:
MEDEIROS, J. (Org.). Geração Alternativa – Antilogia Poética Potiguar, anos
70/80 (Amarela Edições/ PROFINC, Natal, 1997); MELO, Manoel Rodrigues de Melo.
Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte – 1909-1987 (Cortez Editora/FJA,
1987); Coleções e Acervos – Imprensa Alternativa – Sandra Alves Horta
(Internet)
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