13 de agosto de 2014

Mamãe Dolores do Rádio à Televisão



Salete Pimenta Tavares

          Com a chegada da televisão no Brasil, os programas de rádio foram enfraquecendo e as radionovelas, que já eram sucesso na época, desaparecendo para darem lugar aos programas televisivos. Após o sucesso da radionovela “O Direito de Nascer”, do escritor cubano Felix Caignet, transmitida através da Rádio Tupi em São Paulo e da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a televisão brasileira produziu e exibiu pelas extintas TV-Tupi-SP e TV Rio, “O Direito De Nascer”, telenovela escrita por Thalma de Oliveira e Teixeira Filho, com Direção de Lima Duarte e José Parisi, ficando no ar de 07 de dezembro de 1964 a 13 de agosto de 1965, com 160 capítulos. A telenovela era gravada e levada ao ar em São Paulo pela TV Tupi e retransmitida no Rio de Janeiro pela TV Rio. Essa, foi a primeira das três adaptações feitas para a televisão brasileira, da radionovela acima citada e o primeiro grande clássico da teledramaturgia brasileira.                                      
O sucesso da telenovela foi tamanho, que foi organizada uma festa de encerramento, em São Paulo, na noite de sexta-feira, 13 -08- 1965, e no dia seguinte, a festa de encerramento foi realizada no Maracanãzinho, com um estádio superlotado, mostrando assim, o poder da novela sobre as massas. Também houve uma festa de encerramento da novela no Estádio Mineirão em Belo Horizonte.
Uma segunda adaptação foi feita em 1978, com Direção de Antonio Seabra e uma terceira, em 2001, com Direção de Roberto Thalma e exibida pelo SBT.                                       Entre os personagens principais dessa novela como Albertinho Limonta, Dom Rafael de Juncal, Maria Helena, entre outros, a Mamãe Dolores foi o mais lembrado e o mais forte personagem dessa história. Na radionovela, em São Paulo, a Mamãe Dolores foi representada pela atriz Guiomar Gonçalves e no Rio de Janeiro pela atriz Yara Salles. Nessa primeira adaptação da radionovela para a telenovela (1964), a convidada para interpretar o papel de Mamãe Dolores foi a atriz Isaura Bruno, que já havia sido convidada para interpretar o personagem de “Tia Nastácia” na série “O Sítio do Pica-Pau Amarelo” realizada pela TV Cultura.
Em seguida, Isaura Bruno foi escalada para a novela “O Preço de uma Vida”, escrita por Thalma de Oliveira sob a Direção de Henrique Martins. Isaura Bruno ainda participou de quatro filmes, entre eles “Luar do Sertão” e a “Cabana do Pai Tomás”, o seriado “O Sítio do Pica-Pau Amarelo” e ainda o filme “O Incrível Seguro da Castidade” em 1975, sendo este o último filme e último trabalho realizado pela atriz.
Os anos 70, foram muito difíceis para personagens de origem negra e também para outros artistas brasileiros, os quais tiveram seus trabalhos minguado de um modo geral, tanto na televisão, como no cinema. Sem trabalho no cinema e na televisão, Isaura Bruno entrou em decadência e, por certo tempo, passou a viver apenas dos direitos autorais de um livro sobre culinária que ela havia escrito e publicado. Com o tempo, o dinheiro foi ficando escasso, e ela, esquecida pelo público e até por amigos, passou a vender doces nas ruas para sobreviver. Segundo alguns historiadores, os doces eram vendidos nas ruas de Campinas, interior paulista, e para outros nas praças da cidade de São Paulo. (v.pesquisa Internet). Isaura Bruno foi a primeira atriz afro-brasileira a conseguir ser a protagonista principal de uma telenovela brasileira, a Mamãe Dolores de “O Direito de Nascer”, e, depois do grande sucesso da novela, com 60 anos de idade, morre, em 03 de maio de 1977, vítima de enfarte, pobre e esquecida por todos.
Nessa época, a novela não tinha trilha sonora com várias músicas, como atualmente. Ela se destacava apenas com uma música ou no máximo duas, como foi o caso de “A Deusa Vencida”, num compacto vinil somente com duas faixas. A telenovela “Redenção”, exibida na TV Excelsior, teve sua trilha marcada por apenas uma grande música: “Tema de Lara”. A revolução da telenovela brasileira, apresentada pela Rede Globo, na virada da década de 1970, foi acompanhada e impulsionada pela trilha sonora, a qual parece ser a responsável pelo êxito da novela. Foi criado então um slogan; “trilha sonora original”, dividida entre nacional e internacional. A novela no horário das 18.00 horas, ganha impulso, ao adaptar romances brasileiros para a TV, como foi o caso de uma das obras de José de Alencar “Senhora” e também das de Jorge Amado “Tieta do Agreste”.

Enfim, “a telenovela estabelece um elo entre o mundo fantástico da TV e a realidade; o telespectador fica emocionalmente contagiado e vive com os personagens todas as situações apresentadas”. (v.“A Hollywood brasileira – Panorama da telenovela no Brasil” de Mauro Alencar – Editora – SENAC – RIO

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