Caros leitores inicio nossa tema com uma frase do ilustre Ariano
Suassuna “Não troco o meu "oxente" pelo "ok" de
ninguém!”
Transcrevo aqui um artigo dele chamado Deus e o capitalismo
Escreve-me um jovem
físico de São Paulo. Chama-se Júlio, tem 26 anos e elogia as posições que venho
tomando nesta coluna em favor do povo pobre do Brasil. Diz que, a princípio,
ficou mesmo admirado por ver a Folha acolhê-las e publicá-las. Mas depois,
refletindo melhor, chegou à conclusão de que, tendo eu uma visão religiosa do
mundo e do homem, aquelas posições ficam todas invalidadas, porque a idéia de
Deus é o principal sustentáculo do castelo de privilégios da elite econômica
política, que dela se serve para manter o povo resignado diante de todas as desigualdades
e injustiças.
Na carta, o jovem
físico não colocou seu sobrenome, e é por isso que não o transcrevo aqui. Se,
por acaso, estas linhas vierem a cair sob seus olhos, peço-lhe que me mande um
bilhete com seu telefone: gostaria muito de conversar um pouco com ele, para
agradecer pessoalmente os termos amistosos com os quais, na carta, até as
discordâncias foram formuladas.
Mas aqui, logo de
entrada, gostaria de dizer-lhe que o Deus de quem me considero filho não é
capitalista e anti-socialista como declarou o economista Roberto Campos em seu
discurso de posse na Academia Brasileira de Letras. Não se deixe Júlio
impressionar por nossos erros e pecados. Olhe somente o Cristo e ouça o que ele
dizia. Leia os "Atos dos Apóstolos" e veja como os primitivos
cristãos procuravam organizar a sociedade: "A multidão dos fiéis era um só
coração e uma só alma. Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era
comum entre eles (...). Não havia entre eles indigente algum; (...) e
distribuía-se a cada um segundo a sua necessidade". Num ponto, porém,
Júlio tem razão em sua crítica ao cristianismo: depois que o imperador
Constantino romanizou temporalmente a Igreja, esta passou a dotar as
desigualdades e injustiças do Império Romano. Mesmo assim, mesmo governada por mapas
como Alexandre 6º, a Igreja continuou condenando a usura e a ganância. De modo
que, como Max Weber demonstrou de modo irrespondível, foi o pensamento
protestante que procurou legitimar a injustiça social e a desigualdade: segundo
os ideólogos "brancos, anglo-saxões e protestantes", a riqueza era um
sinal de predileção de Deus. E, juntando-se isso à "sobrevivência do mais
apto" de Darwin e Spencer, o capitalismo seria, mesmo, preferido por Deus.
Entretanto – e
graças sejam dadas a Ele por isso! – no século 20 os papas João 23 e Paulo 6º
afastaram a Igreja de tal visão anticristã. De maneira que eu, católico, posso
dizer a Júlio que Deus, segundo visto por João 23 e por outros que pensam como
eu, é cristão, católico e socialista. O Deus que é capitalista (e que,
portanto, pode ser colocado a serviço da injustiça e da desigualdade) é o do
presidente Clinton, de Roberto Campos e do bispo Edir Macedo (Ariano
Suassuna).
O
mérito do Advogado é não fugir da luta, ao contrário, sua satisfação só se
alcança com a vitória acerca da dificuldade.
Dr.
Carlos Cardoso ,Advogado Causas cíveis ,trabalhistas e criminais.
Rua
Desembargador José Gomes da Costa, 1645, Capim Macio – Natal/RN – contato (84)
9994 8435.
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