28 de fevereiro de 2020

Teresinha de Jesus


                                                                                                Foto: divulgação
A cantora Norte riograndense Terezinha de Jesus, estará se apresentando no dia 07 de março/2020, às 20 horas na Casa Galvão espaço Cultural e Bistrô, situada na   R. Dr. Manoel Augusto Bezerra de Araújo, 135 - Vila de Ponta Negra,
Entrevista cedida ao Jornal Zona Sul no ano de 2003
Quem é:Terezinha de Meneses Cruz nasceu em Florânia, no Rio Grande do Norte, a 3 de julho de 1951. . A discografia da seridoense inclui os elepês Vento Nordeste (1979), Caso de Amor (1980), Pra Incendiar Seu Coração (1981), Sotaque (1982) e Frágil Força (1983). A estréia no vinil se deu em um compacto lançado pela Funarte, em 1978, pelo projeto Vitrine. Esse registro está disponível em CD da gravadora Atração, junto com as primeiras gravações de Zizi Possi, Oswaldo Montenegro, Cláudia Savaget e Mongol, com participação de Grande Otelo. Os CDs lançados por Terezinha foram 20 Sucessos de Terezinha de Jesus (1997), pela Sony, e Mares Potiguares, uma produção independente datada do ano passado.
ZONA SUL - Como Terezinha de Meneses Cruz transformou-se em Terezinha de Jesus?
TEREZINHA -  Sou batizada como Terezinha mesmo, o diminutivo de Tereza. Quando comecei a cantar, eu tinha um apelido: Tiazinha. O grande poeta e compositor Abel Silva achava que esse era um nome muito familiar para ser o de uma artista. Lógico que essa Tiazinha de hoje ainda não tinha aparecido. Então Abel Silva decidiu sugerir um nome artístico pra mim. Uma certa ocasião ele perguntou o que eu achava de Terezinha de Jesus. Eu achei ótimo, lindo. Um nome bem brasileiro, que vem do folclore de Portugal. Tem até aquela musiquinha... Capinam e Paulinho da Viola, que estavam conosco, também gostaram. Com o aval de tantos poetas, resolvi, ali, passar a utilizar Terezinha de Jesus.
ZONA SUL - Como começou a cantar?
TEREZINHA - Minha família é toda musical. Em Currais Novos, quando criança, eu cantava em coral de colégio. Mas era com aquele monte de gente, eu não era solista. Quando vim do interior para Natal, minha irmã, Odaíres, já era cantora. O marido dela, Mirabô, também cantava, tocava e compunha. Fui convidada por eles para fazer uma participação especial em um show chamado Explo 70, no Sesc da Cidade Alta. Minha primeira aparição pra valer foi essa, em 1970. Depois da apresentação - que englobava artes plásticas, mostra audiovisual e um monte de coisas - disseram que eu não podia parar.
ZONA SUL - Quando você extrapolou as fronteiras do estado? Tentou seguir carreira em qual lugar?
TEREZINHA - Fiquei cantando aqui em Natal. Uma das boas lembranças que tenho é a participação em um festival de música popular nordestina. Eu cantei uma música de dois compositores potiguares: Ivanildo Cortez e Napoleão Veras. Quero Talvez Uma Nega era o título. Vencemos em Natal e Recife e perdemos em Salvador. Continuei em Natal por mais dois anos, integrando uma turma que tinha, além de mim, Mirabô, Márcio Tarcino, Expedito e outros. Era o Grupo Opção. Fomos todos para o Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro:
ZONA SUL - O sucesso chegou rápido? Foi fácil?
TEREZINHA - No Rio, antes de gravar, até 1978, 1979, eu trabalhei muito. Fui vocalista de Tim Maia, fiz vários jingles, gravei com o Trio Esperança, com os Golden Boys, o Quarteto em Cy... Sempre fazendo vocal. Depois, a convite de Fagner, que estava na CBS, gravei meu primeiro elepê. Eu já tinha repertório e muita gente me conhecia. Os shows que eu fazia estavam sempre lotados. Ía muita gente do meio artístico e jornalistas. Fagner perguntou se eu queria gravar. Claro que respondi que sim. Como tinha o aval de Fagner, entrei direto no estúdio, sem precisar de testes nem nada.
ZONA SUL - E o disco? Fez sucesso?
TEREZINHA - A repercussão de Vento Nordeste foi muito boa. A CBS nem pensava em trabalhar o elepê, em investir na divulgação. Só que, de cara, o disco vendeu três mil cópias. Aí eles resolveram me botar em campo, promover viagens para shows em São Paulo. Na verdade, a princípio eles não acreditavam. Gravaram o elepê para atender a um pedido de Fagner. Mas até hoje músicas como Curare, Vento Nordeste e Na Direção do Dia (também conhecida como Toada, música que depois foi gravada pelo Boca Livre) ainda são lembradas.
ZONA SUL - Como era a vida naqueles tempos do Rio?
TEREZINHA - Eu fiz muito programa de televisão. Participei do Chacrinha, do Fantástico... Estive em todos os musicais da TVE. Quando fui ao Chacrinha pela primeira vez, estava com medo de que fizessem comigo aquela onda de jogar pó de café. Mas, antes de eu entrar no palco, prometeram não jogar nada em mim. Fiz Chacrinha tanto na TV Bandeirantes quanto na Globo. Nessa emissora também participei de um programa chamado Geração 80, que passava nas tardes dos sábados. Fiz muitas vezes Almoço Com As Estrelas. Aliás, esse foi o primeiro programa em rede comercial do qual participei. Até então eu tinha feito vários especiais na TVE do Rio e na TV Cultura de São Paulo. O primeiro foi ao lado de Joanna, que também estava começando.
ZONA SUL - Além dessa história do temor de ser atingida por pó de café no programa do Chacrinha, você lembra algum outro fato inusitado na sua carreira?
TEREZINHA - Sim. Depois do primeiro disco, todas as vezes que eu lançava um novo a CBS fazia um clip para distribuir junto às emissoras de televisão. Eu estava gravando em umas dunas na Barra da Tijuca. Tinha dez crianças comigo. A música era Odalisca Em Flor, gravada no meu último elepê. Falava em elefante. Mas como alugar um elefante saía muito caro, eles optaram por uma leoa filhote. De repente, a leoa avançou em mim. Senti aquele peso na bunda. Mas a sorte é que não me feriu. Ficou só o vermelho da marca das unhas ou dos dentes do bicho, não tenho certeza. Também não inflamou, nem precisei tomar vacina. Mas o susto foi grande.
ZONA SUL - Qual o maior sucesso de sua carreira?
TEREZINHA - A música de maior sucesso foi Pra Incendiar Seu Coração, de Moraes Moreira e Patinhas. Aliás, Moraes Moreira é um dos meus compositores favoritos. Mirabô também. Gosto muito de Paulinho da Viola e de Fagner. Gravei uma de Fagner, depois de vê-lo cantando, que ele sequer pensava em gravar. Foi a música Cigano, que se destacou muito no meu elepê Vento Nordeste e posteriormente foi sucesso com ele também. Fagner, Paulinho da Viola e Abel Silva ajudaram muito na minha carreira artística.
De volta a Natal
ZONA SUL: Por que você não continua até hoje tocando sua carreira no eixo Rio-São Paulo?
TEREZINHA - Fiquei muitos anos no Rio de Janeiro. A gente sempre volta para a terra da gente quando as coisas começam a ficar difíceis... Saí da CBS porque quis. Já estava no terceiro contrato e aquilo começava a parecer um casamento. Eu achava que minha carreira não estava evoluindo, que eles poderiam investir mais em mim, que faltava vontade pra isso. Logo após gravar Frágil Força, em 1983, botei na cabeça que se o disco não emplacasse, não fizesse um grande sucesso, eu sairia da CBS. Eu pensava que seria mais ou menos fácil, com tanto tempo de carreira e tantos trabalhos bem feitos, conseguir uma outra gravadora. É um mistério até hoje. Não sei o que aconteceu, mas cansei de procurar. Então resolvi: se não querem que eu cante, então não vou mais cantar. Voltei para Natal em 1994.

Hoje em dia
ZONA SUL - As amizades daquele tempo não dão uma força para que você possa tentar voltar a impulsionar sua carreira?
TEREZINHA - Meu relacionamento com os cantores, compositores, os amigos daquele tempo, continua ótimo. Eu até precisaria, mas não sou de pedir nada. Eu sou persistente, mas somente até certo ponto. Pelo menos resta o reconhecimento do povo. As pessoas que me conhecem sabem que fiz um trabalho legal, que ficou marcado. Quando faço shows, cantam comigo. Pra Incendiar Seu Coração, cantam todinha. Esse ano, pela primeira vez, recebi uma homenagem no Rio Grande do Norte. Foi o Prêmio Hangar, pelo conjunto da obra. A premiação teve o patrocínio do Banco do Brasil.
ZONA SUL - O que toca atualmente no seu aparelho de som?
TEREZINHA - Não ando ouvindo muito essa geração mais nova. Ainda dou preferência aos mais antigos, como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Gal Costa...também gosto de Marisa Monte. De Natal, gosto de muita gente: Pedrinho Mendes, Geraldinho Carvalho, Cleudo... Mirabô gravou, no disco que Babal lançou, uma música muito boa. Quem ouviu diz que ficou linda. Pra citar as mulheres também, porque se não fica muito machista, tem Odaíres, minha irmã, que também canta muito bem, tem Lane Cardoso, Lucinha Lira, Cida Oliveira e Glorinha Oliveira. Certamente esqueci alguém, já que Natal tem muita gente boa.


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