Do alto da torre da Igreja Matriz - Rua da Conceição - Fotos: cedidas
Do alto da torre da Igreja Matriz - Rua Santo Antônio
Foto: Luciano Capistrano
Luciano Capistrano
Professor e Historiador
“De todos os meios de expressão, a
fotografia é o
único que fixa para sempre o instante
preciso e transi-
tório. Nós, fotógrafos, lidamos com
coisas que estão continuamente
desaparecendo e, uma vez desaparecidas,
não há mecanismo no mundo
capaz de fazê-las voltar. Não podemos
revelar ou copiar a memória.”
(Henri Cartier-Bresson)
Em
minhas idas e vindas aos sebos, me deparei no Sebo Vermelho com o livro de João
Maurício Fernandes Miranda - arquiteto urbanista, professor da UFRN, ocupou
diversos cargos públicos, em órgãos de planejamento urbano, na cidade do
Natal/RN -, “Evolução urbana de Natal em 400 anos: 1599-1999”. Eu recém nomeado
historiador da Secretaria do meio ambiente de Natal, “garimpava” tudo que se
relacionava a história urbana, pulsava em mim, o desejo de saber dessa história
da cidade, minha nova função exigia este conhecimento.
Leitura
agradável, com informações importantes para compreensão dos caminhos trilhados
pela cidade de Câmara Cascudo. A partir dessa obra de João Maurício, me chamou
a atenção outro livro de sua autoria, “380 anos de história fotográfica da
cidade de Natal: 1599/1979”, passei, então, a catar nos diversos sebos da
cidade o tão desejado livro.
Em
uma tarde despretensiosa, a bela surpresa, ao acessar o site da Estante
Virtual, especializado em livros usados, me deparo com um exemplar, rapidamente
realizo a compra virtual, enfim, tenho o livro em minhas mãos.
Bom
faço este relato com a finalidade de convidar meu caro leitor, minha cara
leitora, para, neste curto artigo, fazer algumas reflexões sobre fotografia e
história, motivado, por duas das minhas paixões: a fotografia e a história. Em
seu livro, João Maurício, faz uma viagem sobre a Natal a partir da fotografia,
nesses “380 anos de história fotográfica”, as fotos são postas no livro,
fazendo um contraponto entre “o ontem e o hoje”, são imagens da Natal do início
do século XX e final da década de 1970, uma verdadeira narrativa visual da
cidade. A fotografia faz parte do cotidiano presente:
O impacto cultural da fotografia sobre
os últimos cento e cinquenta anos, tanto em si mesma, quanto na forma da imagem
visual em movimento a que ela também deu origem, tem sido imenso, alterando
completamente o ambiente visual e os meios de troca de informação de uma grande
parte da população do globo. (GASKELL, Ivan. História da imagem In BURKE, Peter
(Org.). A escrita da história, São Paulo, 1992, p. 241)
No
fazer histórico o uso da fotografia tem ao longo do tempo ganhado espaço na
produção historiográfica. A evolução tecnológica e o impulso das mídias
digitais possibilitaram o acesso a diversas fontes de pesquisa com a
diversidade dos tipos de documentos, são um ganho dos tempos modernos. Vejamos:
A iconografia fotográfica diz respeito
a partes ou ao conjunto da documentação pública ou privada que abrange um largo
espectro temático, produzida em lugares e períodos determinados. As fontes que
compõem são meios de conhecimento: registros visuais que gravam microaspectos
dos cenários, personagens e fatos; daí sua força documental e expressiva,
elementos de fixação da memória histórica individual e coletiva. Em função de
tais características, constituem documentos decisivos para a reconstituição
histórica. (KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: O efêmero e o perpétuo.
Cotia: Ateliê Editorial, 2007, p. 34-35)
As
fotografias são narrativas, sejam em “álbuns públicos ou privados, a serem
interpretadas por historiadores/pesquisadores, assim, a obra de João Maurício,
traz em suas páginas uma narrativa da cidade de Natal através de um rico acervo
fotográfico. São imagens de uma cidade “localizada” em determinado tempo, e,
podemos aferir a partir deste “380 anos de história fotográfica”,
elementos fazedores da urbe. Como, exemplo, reproduzo, abaixo, algumas fotos
pinçadas do livro supra citado.
1 – foto
As
imagens compõem narrativas silenciosas, estão a espera de intérpretes, daqueles
que retiraram delas seus significados. Claro que este caminho não é uma tarefa
fácil. Existe um percurso a ser vencido. O olhar do historiador, é o olhar do
pesquisador, atento as partes determinantes do documento, e munido desses
instrumentos, se faz o caminhar historiográfico. Recorremos, de novo, ao
historiador Boris Kossoy, pioneiro nessa temática:
Contudo, a imagem fotográfica é fixa,
congelada na sua condição documental. Não raro nos defrontamos com sua condição
documental. Não raro nos defrontamos com imagens que a história oficial, a
imprensa, ou grupos interessados se encarregaram de atribuir um determinado
significado com o propósito de criarem realidades e verdades. Cabe aos
historiadores e especialistas no estudo das imagens, a tarefa de desmontagem de
construções ideológicas materializadas em testemunhos fotográficos. Decifrar a
realidade interior das representações fotográficas, seus significados ocultos,
suas tramas, realidades e ficções, as finalidades para as quais foram
produzidas é a tarefa fundamental a ser empreendida. (KOSSOY, Boris. Realidades
e ficções na trama fotográfica: O efêmero e o perpétuo. Cotia: Ateliê
Editorial, 2012, p. 22-23)
2 – foto
Ao
aproximar do fim, chamo a atenção para a importância de vê a fotografia como um
documento histórico, neste sentido, temos de termos diante dessa importante
fonte histórica a mesma postura assumida de antes de outros tipos de
documentos, devemos ao explorar os caminhos inerentes a historiografia manter
os cuidados particulares do pesquisador. Pensar a fotografia, enquanto
fonte, requer a compreensão da sua trajetória, pois:
Toda fotografia tem atrás de si uma
história. Olhar para uma fotografia do passado e refletir sobre a trajetória
por ela percorrida é situá-la em pelo menos três estágios bem definidos que
marcaram sua existência. Em primeiro lugar houve uma intenção para que ela
existisse; esta pode ter partido do próprio fotógrafo que se viu motivado a
registrar determinado tema do real ou de um terceiro que o incumbiu para a
tarefa. Em decorrência desta intenção teve lugar o segundo estágio: o ato do
registro que deu origem à materialização da fotografia. Finalmente, o terceiro
estágio: os caminhos percorridos por esta fotografia, as vicissitudes por que
passou, as mãos que a dedicaram, o solhos que a viram, as emoções que
despertou, os porta-retratos que a emolduraram, os álbuns que a guardaram, os
porões e sótãos que a enterraram, as mãos que a salvaram. Neste caso seu
conteúdo se manteve, nele o tempo parou. As expressões ainda são as mesmas.
Apenas o artefato, no seu todo, envelheceu. (KOSSOY, Boris. Fotografia e
história. São Paulo: Editora Ática, 1989, p. 29)
3 – foto
Fotografia e
história: algumas reflexões, antes de um artigo conclusivo, não tem essa
pretensão, busca fazer uma reflexão sobre fotografia e história, em um contínuo
pensar sobre as possibilidades dos “vestígios” deixados em “álbuns” para
a historiografia. Finalizo, então, com um pecado poético e uma fotografia, que
seja um convite à reflexão.
4 – foto
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