Santa Cruz em 1981
Mal comemorou os seus dois anos de
Governo com o problema de duas secas, Lavoisier Maia entrou no seu terceiro
período com inesperados problemas criados por uma repentina enchente. Enquanto
toda a máquina do Governo voltava-se para combater a falta d’água, surgiu o
excesso de água o que, segundo técnicos da Secretaria da Agricultura e da
EMATER-RN, vai dar quase no mesmo porque “tanto faz um açude seco, como um
açude destruído pelas águas, como o de Campo Redondo e mais de 100 outros em
todo o Estado, entre públicos e particulares’’.
No entanto, não chega a ser exatamente a mesma coisa, feitos todos os balanços.
“De qualquer modo’’ – como diz Gilzenor
Sátiro, da EMATER “a terra está molhada e é melhor do que seca’’.
Mas a enchente que assolou o Rio Grande
do Norte no fim de março e princípio de abril, provocando prejuízos de uns 500
milhões de cruzeiros e a destruição parcial da cidade de Santa Cruz, não é
sinal seguro de inverno. Mesmo o mundaréu de água não afasta, de todo, o fantasma
das previsões dos técnicos do Centro de Tecnologia da Aeronáutica – CTA.
- Inverno mesmo – segundo os técnicos –
só se continuar chovendo até o fim de abril.
OS ESTRAGOS – Mas, sendo inverno ou tão
somente uma violentíssima frente fria que pairou sobre o Nordeste durante
alguns dias, o aguaceiro deixou marcas indeléveis no Estado. Não só nas mais de
mil casas destruídas em
Santa Cruz , nas quase 200 de Campo Redondo, no devastamento
de pontes e estradas e açudes. Há os Cr$ 165 milhões que o parque industrial
deixou de faturar pelos quatro dias de completa paralisação de suas máquinas em
função da interrupção no fornecimento da energia elétrica, há o não avaliado
prejuízo das pequenas indústrias e estabelecimentos comerciais que estiveram
parados e vão ter grandes dificuldades neste mês de abril e, sobretudo, ficou a
recordação da vulnerabilidade da economia do Rio Grande do Norte a fatores tão
perigosos. Um deles é a dependência do Estado a uma única linha de transmissão
de energia de Paulo Afonso, na rota que vem por Campina Grande e o Seridó
- justamente a que foi atingida pelas águas
do açude arrombado de Campo Redondo. Só com o acidente que arrastou 14 torres
de aço o Governo despertou para a necessidade de reforçar a sua luta para o
Ministério do Interior continuar as obras da linha alternativa via Ceará
Russas, através do Oeste.
O AUXÍLIIO – A enchente teve uma
vantagem em relação à seca: o auxílio mais rápido do Governo Federal, através
da visita do Ministro Mário Andreazza a Santa Cruz e Campo Redondo. Pelo menos
a promessa foi rápida: financiamento para reconstrução das casas, aos
comerciantes prejudicados, facilidades creditícias através do Banco do
Nordeste. Os empresários através da FIERN, entraram também com suas
reivindicações, tanto em termos dos prejuízos, como também para o setor da
construção civil, pois há 300 casas prontas no Estado dependendo da liberação
de financiamentos.
No natalense ficou o trauma dos cinco
dias passados na mais completa escuridão e num dramático – e paradoxal – jejum
de água potável.
(Transcrito da Revista RN ECONÔMICO –
ano XI – nº 121 – Março/81)
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