24 de outubro de 2016

Atheneu Norte-rio-grandense


Tarcisio Rosas
(Sociólogo e membro do IHGRN)

   Observando o profundo desgaste que acomete o prédio do Atheneu Norte-rio-grandense, de há muito carente de reforma e adaptações (para cadeirantes, por exemplo), torna-se difícil entendê-lo como um marco no processo educacional brasileiro no passado longínquo. Difícil mas não impossível, posto que a história nos relata este fato, como se segue.
   Com efeito, o Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense foi fundado em 1833 e instalado em 03 de fevereiro de 1834, estabelecendo-se, assim, como o mais antigo em atividade no Brasil (precede ao Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, este datado de 1837, com implantação e consequente início de funcionamento no ano posterior), pelo então presidente da Província Basílio Quaresma Torreão, idealizador  da iniciativa, e que se constituiria o seu primeiro diretor-geral. Objetivava congregar num só núcleo de ensino as disciplinas da cadeira de humanidades, assim chamado o estudo das letras clássicas, também designadas como Aulas Maiores, compreendendo latim, filosofia, francês, geometria e retórica. Preexistentes em Natal mas de forma autônoma, estanque, desvinculadas totalmente entre si, conforme assinala CÂMARA CASCUDO: “Em Natal havia as Aulas Maiores, latim, filosofia, francês, geometria e retórica. O presidente Basílio Quaresma reuniu-as, fundando o Atheneu do Rio Grande do Norte, instalado a 3.2.1834” (1984, p. 265).
   A escolha do nome, aliás bastante sugestiva, provém do grego Athénaion, “templo de Atena” (Atenéia ou Palas Atenéia, em latim Minerva, deusa da sabedoria). Pretendia ele, outrossim, plasmar e projetar a representação mental de que o Atheneu era, ou seria a partir dali, a “casa da sabedoria, fiel a seu destino alto e puro”.
   Submetido à apreciação de um conselho consultivo, o plano foi prontamente aprovado. Dentre os nomes que compunham referido conselho, todos de relevância política e cultural para os padrões da época, destacamos os do Cel. Joaquim José do Rego Barros, que presidira a Junta Constitucional Provisória (1822), Cel. Luis de Albuquerque Maranhão, que integrara citada Junta, e o de Padre Manoel Pinto de Castro, irmão de Padre Miguelinho e político de expressão no início do regime imperial e que, por sua vez, presidira a Junta de Governo Provisório (1822-1824).
   Sua instalação e consequente início de funcionamento ocorreu em dependências da corporação militar, no âmbito da Igreja de Santo Antônio dos Militares (a polícia do estado só seria criada em 1836), ali permanecendo até março de 1859, quando foi transferido para um prédio da Rua da Cruz (depois Av. Junqueira Aires, hoje Câmara Cascudo), onde atualmente funciona a Secretaria Municipal de Tributação. Neste último cumpriria sua missão até 1954, quando passaria às instalações definitivas, em Petrópolis, na Rua Campos Sales.
    Assim surgiu o Atheneu, há 180 anos. Vê-se, não é uma falácia dizer-se que este colégio detém o pioneirismo no ensino  secundário no Brasil, em que pese o descaso com que tem sido tratado por sucessivas administrações. Requer urgentes reparos de manutenção e reforma para que, atendidas as não menos urgentes necessidades do professorado, novas levas de estudantes venham perenizar-lhe o dístico sonhado em sua origem.
Referências bibliográficas
   CÂMARA CASCUDO, Luís da. História do Rio Grande do Norte, 2ª Ed. Rio de Janeiro: Fundação José Augusto/Ed. Achiamé, 1984.
Fonte eletrônica:
Http://nataldeontem.blogspot.com/2008/10/o-atheneu-norte-riograndense-texto.html
Http://nataldeontem.blogspot.com/2009/09/o-atheneu-norte-riograndense.html

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