(Gumercindo Saraiva)
Efetivamente, os poetas Lourival Açucena
e Ferreira Itajubá escreveram letras para os blocos de sua época, mas todas se
perderam porque não havia meio de divulgação. De 1920 a 1930, Olímpio Batista Filho,
João Estevam, Evaristo de Souza, Cirineu de Vasconcelos, Otoniel Menezes, Fábio
Zambroti, Chico Bulhões, Josué Tabira, Jayme dos G. Wanderley, Palmira
Wanderley, Clarice Palma e Carolina Wanderleyescreveram poemas, musicados por
compositores norte-rio-grandenses. Cada bloco tinha sua música, como hino
oficial, mas pouco era divulgada, uma vez que o folião somente cantava os
sucesso aparecendo nas vitrolas e interpretadas por cantores cariocas, como
diziam.
No sul, o ritmo era a Polca, o Maxixe, e
o Chote. O Maxixe, já nasceu dança urbana, e o Carnaval ganhava assim sua
coreografia. Isso a partir de 1845, segundo o musicólogo Mario de Andrade. Há
precisamente um século em 1877 as danças nos bailes sociais eclodiram com
Polcas, Chotes. Quadrilhas e outros ritmos importados da Europa. O Carnaval era
dançado com músicas dessa espécie até que, em 1890 Chiquinha Gonzaga, compôs “”Oh
abre alas” constituindo a primeira marcha para o Carnaval, isto é, escrita
apenas para um bloco-cordão denominado “Rosa de Ouro”. Depois de popularizada
pelo Cordão, os outros blocos começaram a cantá-la e nunca mais pararam.
Em 1910 vieram as músicas escritas
especialmente para o Carnaval. Mas o povo cantava tudo o que sabia, no delírio
do éter. A embriaguez, a bebedeira desenfreada e a liberdade excessiva nos
foliões, fizeram com que letras pornográficas fossem introduzidas no Carnaval.
A canção popular brasileira estava formada, aproveitando temas policiais e
fatos relacionados com a vida social do nosso povo. Aí chegaram as críticas
julgando pessoas de relevo e autoridades, como os próprios Presidentes da
República, vindo em forma de paródias. Vejamos algumas composições chistosas, humoristas
e graciosas, aliás, cantadas também nos carnavais natalense:
Papagaio louro
Do bico dourado
Tu falavas tanto
E hoje estás calado!
Fazendo alusão ao grande Ruy Barbosa,
quando a Aguia de Haya deixou de falar em determinada época, pretendendo
alcançar à Presidência da República. O estadista Wenceslau Braz, recebeu uma
Embolada muito cantada em sua campanha política. Sinhô, autor de vários
sucessos carnavalescos, escreveu, envolvendo a figura de J.J. Seabra:
Macaco velho
Não mete a mão em combuca
Por causa disso
Tem muita gente maluca
Numa crônica escrita pelo jornalista João
Ricardo (Revista FROU-FROU, de fevereiro de 1925), transcrevemos este trecho:
- De todas as críticas, porém, foi o Sr.
Hermes da Fonseca o que mais sofreu os ataques e as alusões ferinas, sempre e
nem sempre justas, da musica popular carioca. Ridicularisando por sua vez, a
nossa política, a propósito das campanhas que ela move de tempo em tempo, à
jogatina, os poetas carnavalescos compuseram, de uma feita esta sextilha que é
uma obra-prima de bom-humor sadio.
O chefe de polícia
Pelo telefone,
Mandou-me “avisá”
Lá na Carioca
Tem uma roleta
Para n[os “brincá”
Querem agora um modelo de canção
educativa? Ei-lo aqui:
Fala, meu louro
Emissário do diabo
Deixa a vida alheia
Macaco olha teu rabo...”
A sextilha que o Sr. João Ricardo citou,
foi a origem do primeiro samba carnavalesco “PELO TELEFONE”, que ainda hoje se
discute sua autoria, não obstante, ter Donga, em 1917 registrado na Escola de
Música, como sendo, sua com letra do jornalista Mauro de Almeida.
POLÍTICOS
POTIGUARES ENVOLVIDOS
EM
MÚSICAS CARNAVALESCAS
Logo após a Revolução de 30, quando
Juvenal Lamartine, por imposição, deixou o governo do estado, houve uma série
de canções fazendo críticas ardorosas ao grande estadista hoje falecido,
juntamente com o Dr. José Augusto.Vários militares, como chefes de polícia,
ajudante de ordens, assessores do Palácio,e civis ilustres como o engenheiro
Omar O`Ggrady de Paiva, tiveram seus nomes envolvidos em músicas carnavalescas,
de 1931 a 1933.
Possuímos as canções apimentadas,
fazendo críticas principalmente aos governadores. Uma marcha cearense cantava:
Vamos a Palácio
Arrancar à unha
O velho Acioli
È o Carneiro da Cunha
Em 1910, houve a cantoria muito popular,
enaltecendo o capitão José da Penha, com a música do “Vassourinhas”. Mas, isso
foi podemos dizer uma fase negra que já passou. Está morta. Não devemos
desenterra-la.
Na Guerra do Paraguai, e nos conflitos
de Canudos houve uma série de canções como esta:
Já embarcou
Com alegria
Moreira Cesar
Foi pra bahia.
Solano Lopes aguenta
O rojão não te fez mal
Deixa o campo de batalha
E venha pro Carnaval.
Os Presidentes da República, também
tiveram seus nomes ligados às canções carnavalescas. O grande Marechal Deodoro
da Fonseca foi interpretado assim:
Fui ao Campo de Santana
Beber água na cascata
Encontrei o Deodoro
Dando beijo na mulata.
A mulher de Deodoro
É uma grande caloteira
Mandou fazer um vestido
Não pagou a costureira
Mas, no tempo do Império o povo cantou
nos carnavais da época, estas quadras, hoje transformadas em folclóricas porque
a música desapareceu e as pesquisas enquadraram-na na cultura popular:
Queremos Pedro II
Embora não tenha idade
A Nação dispensa e lei
E viva a maioridade
Morreu
D. Pedro I
Ficou
D. Pedro II
Batendo
com as pestanas
Governando
sempre o mundo
Atirei um cravo nágua
De teimoso foi ao fundo
Os peixinhos responderam
Viva D. Pedro II.
Saiu
D. Pedro II
Para
o reino de Lisboa
Acabou-se
a Monarquia
O
Brasil ficou à-toa.
Versaria dessa natureza enche os cancioneiros
nacionais. As quadras chistosas humoristas e apimentadas, não divulgaremos, em
memória, à nobreza fidalguia e magnanimidade dessa família que construiu a
primeira fase cultura de nosso País. Tanto da parte dos Monarquistas, como da ala
dos Republicanos, houve uma série de versos todos musicados e levados ao Carnaval.
Se bem que estas musicas não eram
cantadas, estava em sua fase mais esplendorosa o folião natalense, já possuía
senso de responsabilidade, outras canções vieram substituir uma musicalidade
considerada arcaica e absoleta.
ALGUNS BLOCOS DO CARNAVAL NATALENSE
Natal jamais conheceu uma alegoria como as
que existiram no Rio de Janeiro. uma vez que nosso povo sempre foi pobre, em
sentido carnavalesco. Por isso ficamos surpresos quando os jornais de hoje
anunciaram que os Camarotes do “América Futebol Clube” já haviam sido vendidos
todos na base de Cr$ 8.000,00. E ainda se fala em crise... Alta do café, do
trigo e da gasolina.
Nossas informações acerca dos clubes
natalense vem de 1925 até o presente quando essas agremiações morreram porque
as Escolas de Samba deram nova vida ao Carnaval de Rua, que dizem está desaparecido...
o que efetivamente isso aconteceu inesperadamente.
Vamos contar uma faceta do carnaval
natalense, envolvendo o pesquisador, um homem simples que de 1940 a 50,
permanecia os três dias de folia enclausurado no “Convento Santo Antônio”
fazendo Retiro como membro da Congregação Mariana de Moços pedindo perdão
porque foi um dos fundadores do primeiro “Clube de índios”, isso nos idos do
carnaval de 1934. E quando vemos essa indiada espalhada nas ruas esta capital
fitamos o céu e pedimos clemência visto ter sido um dos culpados dessas
agremiações hoje sem nenhuma receptividade. E tem mais formou autores do Hino
botando música nos versos do saudoso poeta Damasceno Bezerra.
Mas, nossa tristeza se completa quando
ouvimos algumas “tribos” cantarem ZING-ZING – BUM-BUM, toda deformada em sua
estrutura melódica, com versos modificados. E se o poeta Damasceno Bezerra
estivesse vivo, morreria de vergonha pelo atentado aos seus versos, tão bem
compostos, à pedido da direção dos Índios Potiguares, como se chamaram
primitivamente. Depois passou a se chamar – Indios Guaranis.
A “Taba” nasceu em fins de janeiro de
1938 num terreno pertencente ao Cel. Tito Jacome, onde hoje está edificado o
Colégio Santo Antônio completando agora 44 anos. O grupo possuía apenas o Pagé,
Sr. Jorge Farkar. E os componentes a maioria ainda vive, nas pessoas de Euclides
Lira, João Barbosa, Osvaldo Galvão, Joaquim Barbosa, Milton Servita, José
Estiliano, Evaldo Gomes. Mas um dos fundadores, principal figura que muito
trabalhou para que os Índios constituíssem uma agremiação quase cinquentenária,
foi o Sr. José Barbosa, conhecido por Zé Lourinho, pai da senhorita Silvia Barbosa,
funcionária da “Fundação José Augusto”.
Aliás, dias antes do Carnaval, houve uma
alteração e por isso deixamos os ÍNDIOS que chegaram à Av. Tavares de Lira em
forma alegórica. Cada selvícola. levava uma tocha clareando o penúltimo corso
da Ribeira, pois, em 1936 já este passou para a Cidade Alta. A Ribeira era
pequena para acumular tanta gente, já com um Carnaval modernizado, como
informaram as autoridades municipais da época.
(Conferência pronunciada na Fundação
José Augusto).
(Transcrito do Suplemento “Contexto” – domingo, 20/12/1977).
Nenhum comentário:
Postar um comentário