Estádio Presidente Humberto Castelo Branco (Castelão), início dos anos de 1970
Luciano
Capistrano
Historiador
- Parque da Cidade/Semurb
Professor
de História - Escola Estadual Myriam Coeli
A
década de 1970 é caracterizada por uma expansão da habitação. Eram diversos
projetos habitacionais que ganhavam formas. O Banco Nacional de Habitação(BNH),
e as parceiras locais financiavam empreendimentos imobiliários com o objetivo
de atender a uma crescente demanda por moradia. As cidades, principalmente as
capitais, viviam as tensões sociais em decorrência da migração em virtude da
busca por emprego em centros mais desenvolvidos. Em Natal, este processo de
aumento a população também foi verificado. A capital potiguar é, então, palco de
ações desenvolvidas pela Companhia de Habitação do Estado e o Instituto de
orientação às Cooperativas Habitacionais (INOCOOP), fazendo surgir um novo
cenário urbano. A cidade de Câmara Cascudo seexpande para além da “corrente. ”[1]
O
final dos anos de 1960 - ainda na
administração do ex Prefeito Agnelo Alves -, já apresenta uma outra Natal, com
a inauguração do Estádio de Futebol, o antigo Castelão. Marco na arquitetura da
cidade, a nova praça esportiva, aponta a direção do caminho a ser ocupado pela
urbanização. O antigo caminho da base área americana, via nascer um novo espaço:
inseriam-se cada vez mais antigas granjas, sítios, matas, dunas, lagoas, no
perímetro urbano. Como assinalou no Hino, “poema”, de Natal o professor Waldson
Pinheiro:
Natal,
Cidade Sol
tu
representa tanto para mim!
No
inicio, Forte dos Reis Magos,
Cidade
Alta, Ribeira e Alecrim.
Daí, sempre a crescer –
um
cajueiro, galhos a estender,
brotou
em Morro Branco e Bom Pastor,
em
Candelária, Felipe Camarão;
do
morro do Careca
em
Ponta Negra, vem rolando até o chão.[2]
Faz
necessário lembrar que, a cidade de Natal vivenciou na década de 1940, um
grande impacto com a instalação da base área americana, e toda uma intensa
movimentação de atividades relacionada aos esforços de guerra Olhar sobre este
fato é fundamental para compreendermos os caminhos delineados na urbanização.
Neste sentido é interessante a analise da professora Maria do Livramento
Miranda Clementino, ao afirmar ser:
[...]
preciso no entanto observar que embora em pequeno número, porem significativo
em termos de área, inicia-se no pós guerra, a ocupação de locais distantes do
centro da cidade. Para isso, muito contribuem terrenos cercados e ocupados
pelas forças armadas brasileiras, que, dadas as suas dimensões oneram a
implantação da infraestrutura e serviços urbanos na cidade, criam enormes
vazios urbanos e impõem a característica de cidade horizontal que Natal
apresenta.[3]
A
cidade de Natal, tem de certo modo, como afirmou a professora Maria do
Livramento, sua expansão urbana delineada nas rotas, digamos assim, das
instalações militares. Ao olhar exemplos como o do conjunto habitacional
Neópolis, tudo fica bem nítido: no fim da cidade, nas terras longínquas, como
se dizia á época, foi construído esta unidade habitacional.
Neste
contexto nasce Candelária, sobre as brancas dunas, numa Natal que olhava o seu
caminhar em direção a Parnamirim, o conhecido Trampolim da Vitória. Esse
movimento de ocupação urbana, já tinha um marco inicial, o Conjunto Neópolis,
entregue a população em 1970, seu empreendimento representou uma ocupação de
terras “distantes”, Candelária, então, tem uma concepção que segue a mesma
lógica, ocupar, “espraiar” a cidade e deste modo os “espaços”, vazios aos
poucos eram ocupados por novos empreendimentos comerciais, resultado das
demandas advindas dos conjuntos habitacionais.
Em
1976, quando Candelária foi inaugurada, durante o governo de Tarcísio Maia, os
primeiros moradores, enfrentaram diversos desafios, principalmente referentes
ao acesso. A avenida Presidente Prudente de Morais, por exemplo, foi inaugurada
em 1979.Nestes primeiros anos de morada nova, não era fácil vencer o “areal” e
a “mata” .
Antigos moradores relatam a felicidade de
receberem a chave de suas novas casas, como percebermos em algumas
correspondências realizadas neste início do conjunto. A dona de casa Aline de
Farias Capistrano, uma das primeiras moradoras, contemplada com uma casa na rua
Bernardo Dória, na época uma rua vizinha a um “matagal”, onde tempos depois foi
erguido o Bairro Latino, próximo a fabrica T Barreto, deixa claro a felicidade
de ter uma nova morada: “Betinho [...] está animado para ir morar em Candelária
[...] vou receber a chave da casa de Candelária no dia 27 deste [...] no dia 30
que será sábado nos mudamos. ”[4] A
Candelária dos tempos de Dona Aline mudou, transformou-se, seguiu o trilho do
progresso, como bem assinalou o professor Pedro de Lima:
Verifica-se
uma tendência para a constituição de um espaço metropolitano em torno de Natal;
o litoral, ao norte e ao sul da cidade, passa por um intenso processo de
urbanização, relacionada predominantemente com o turismo, mas também com a
criação de novos espaços residenciais das classes média; observa-se a
proliferação de centros comerciais e empresariais, shoppings centers e
condomínios residenciais, além de hotéis e outros equipamentos de suporte a
indústria do turismo.[5]
O bairro Candelária foi
criado, oficialmente, através da Lei nº 4.330 promulgada em 5 de abril de 1993.
Bairro que nasceu conjunto, empreendimento realizado pelo Instituto de
Orientação às Cooperativas Habitacionais (INOCOOP/RN). Entregue em 1975, não
foi nada fácil os primeiros tempos. Erguido no alto, sobre dunas, Candelária
sofria com a falta de transporte coletivo, e parte de seus moradores tinham de
enfrentar o areal, da hoje avenida Prudente de Morais, via de acesso ao
conjunto.
O conjunto cresceu e
virou bairro. Quanto a origem de seu topônimo, a ex-diretora do INOCOOP, Maria
do Rosário, segundo Itamar de Souza em “ Nova História de Natal, estar na
adaptação do nome Candelário, estação de sky, visitada por ela quando esteve na
Espanha.
O bairro Candelária,
longe de ser aquelas “desérticas” dunas do passado, guarda a história da
expansão urbana de Natal. Candelária tem limites com Lagoa Nova, Capim Macio,
Neópolis, Cidade da Esperança, Cidade Nova e Pitimbu, em seus limites
encontra-se parte do Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, assim, o bairro
incorpora papel importante na preservação da fauna, flora, e, o aquífero
barreiras, fonte fundamental para a manutenção do abastecimento de água da
cidade de Natal, a cidade das brancas dunas.
Como assinalou a professora Marise Duarte, “... a área dunar existente
nos bairros de Pitimbu, Candelária e Cidade Nova pode ser considerada uma das
mais importantes do ponto de vista da proteção ambiental no município de
Natal”.[6]
Enfim, Candelária e o
Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, representam momentos diferentes de uma
cidade chamada Natal.
[1] A
“corrente” estendia-se de um lado a outro da via. Fazia parte da estrutura de
um posto de fiscalização do Estado, nos anos 1960, localizado na Av. Senador
Salgado filho, nas imediações do atual IFRN.
[2]SEMURB.
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (RN). Anuário Natal
2011/2012. Natal (RN): SEMURB, 2012. p. 39.
[3]CLEMENTINO,
Maria do Livramento Miranda. Economia e Urbanização: o Rio grande do Norte nos
anos 70. Natal; IFRN, 1995, p.229.
[4]CORESPONDÊNCIA,
datada de agosto de 1975. Acervo Rosaline de Farias Capistrano.
[5]LIMA,
Pedro de. Natal século XX: do urbanismo ao planejamento urbano. Natal: EDUFRN,
2001, p.121.
[6]
DUARTE, Marise Costa de Souza. Espaços especiais urbanos: desafios à efetivação
dos direitos ao meio ambiente e à moradia. Rio de Janeiro: Observatório das
Metrópoles, 2011, p.296.
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