13 de janeiro de 2015

Mini-história da imprensa infantil no RN


                               Anchieta Fernandes
                                
        Se a leitura era uma fuga da realidade para as crianças clientes da psicanalista Melanie Klein, no entanto, para as crianças normais de hoje ler faz parte do aprendizado. A literatura infantil, porisso, é muito importante no processo de formação da pessoa. E o meio mais democrático de difusão desta literatura é uma mistura do padrão livro com o padrão dos periódicos, no contexto da imprensa infantil apresentada em jornais e revistas. Sem se esquecer que hoje sites existem onde a criança encontra também sua literatura preferida via on line.
       Mas, como tem sido a história da imprensa infantil aqui no Rio Grande do Norte? Façamos uma retrospectiva: entremos na máquina do tempo. Ainda no século 19, em 1899, em Natal eram lançados os dois primeiros jornais infantis do estado: “O Rato” e “A Espora”. Em 1908, a Sociedade Infantil Filhos do Concerto, também em Natal, lançava ao público de pouca idade norte-riograndense outro jornal infantil: “Luz da Infância”, que tinha como lema a frase do Eclesiastes: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade”.
        Mas antes deste novo jornal infantil de Natal, Alfredo Dias já pensara nos pequenos como leitores de jornais, em Assu: em 1900, começou a publicar, em parceria com Otávio Amorim, o jornalzinho “O Pintassilgo”. No ano seguinte, Alfredo D e João Alfredo lançavam outro órgão jornalístico infantil em Assu, cujo título era o nome de outra ave: “O Cisne”. Em 1909, em Caicó, Tudinha Nóbrega redigia e lançava o jornal manuscrito “A Infância”. Em 1911 e 1912 circulou em Assu o jornal “O Infantil”, tendo saído seu primeiro número a 4 de junho de 1911.
        Passaram-se depois algumas décadas sem se ter notícias de outros jornais no gênero. A 24 de novembro de 1952, contudo, alunos e professores do Grupo Escolar Meira e Sá, de Santana do Matos lançavam “Ecos Infantis”, sob a direção do professor Celso Arruda, embora a supervisão estivesse a cargo do “Excelente educador” (como a ele se referiu Manoel Rodrigues de Melo, em seu livro “Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte 1908 – 1987”, publicado em 1987) Osvágrio Rodrigues. Era uma publicação periódica, com tiragem até de 400 exemplares.
       Em 1967, a magia do pensamento infantil se somou a uma vertente espiritual, com o lançamento em Natal da revista “Criança Espírita”, que se dizia “revista de orientação espírita à infância”. Em Currais Novos, também se deu um empurrãozinho para se despertar crianças e jovens para a leitura de jornais. Na cidade do poeta José Bezerra Gomes, a 2 de abril de 1968 começava a circular “O Jornalzinho”. Era um órgão infantil mensal do Grêmio Domingos Sávio. Em setembro de 1983, foi lançado em Natal o “Jornal da Criança”.
        Era uma publicação totalmente dedicada aos interesses da gente miúda (em tamanho físico), publicando material jornalístico literário e artístico em geral sobre crianças, e alguma parte deste material produzida pelas próprias crianças. O jornal era uma publicação da EDITORA SACI – Projetos e Empreendimentos Jornalísticos Ltda. No primeiro número, tem uma matéria sobre iatismo e a sua prática pelas crianças de um curso (crianças na faixa etária de 9 a 14 anos)promovido pelo Iate Clube de Natal.
       Tem também o lançamento das colunas “Literatura Infantil” (comentando no primeiro número os livros “Os Bichos que Tive – Memórias Zoológicas”, de Sylvia Orthof, e “Sapo Curuminho da Beira do Rio”, com texto e ilustrações de Maria Magdalena Lana Gastelois) e “Dicas”, além das páginas “Galeria de Fotos”, “Ateliê” (literatura e desenhos produzidos por crianças) e “Quadrinhos, Jogos e Humor”. Na mesma década, em novembro de 1987, o jornalista Júnior Alves lançava em Natal o jornal “A Criança”, com distribuição gratuita.
       O slogan no cabeçalho era: “O jornal de quem quer saber mais”. Artigos, poesias (transcrito no primeiro número trecho de um poema do grande poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, acompanhado de uma foto dele quando menino), notícias, contos (no primeiro número, um conto escrito pelo garoto Rodrigo Fonseca Alves de Andrade, de 9 anos de idade), e muitas fotos de crianças e adolescentes norte-riograndenses. Algumas das colunas lançadas no primeiro número: “Trenzinho da Alegria”, “Curiosidades”, “Juventude em Destaque”.
        No 2º bimestre de 1998, foi lançado em Natal o jornalzinho “Lápis de Cor em Notícia”, ´´orgão do Jardim Escola Lápis de Cor, de Natal, com artigos pedagógicos. Também em 1998, no mês de julho, foi lançado em Natal o boletim informativo “Vida”, da Casa de Apoio á Criança com Câncer. Para a mesma entidade (isto é, Casa de Apoio à Criança com Câncer), a Oficina da Notícia produziu, a partir de setembro de 1999, o informativo “Jornal da Casa”. Em dezembro do mesmo ano, a mesma agência começou a produzir o “Jornal do Hospital Infantil Maria Alice Fernandes (Zona Norte de Natal).
        Em junho de 2000, foi lançado em Natal o boletim informativo (apenas uma folha, impressa de um lado) “Criança Cidadã”, do Projeto Criança Cidadã, da Associação de Amigos do Bairro de Felipe Camarão. O jornal foi fundado por Francisco Ranilson Nascimento, com distribuição gratuita. O “Jornal CEI”, do Centro de Educação Integrada, de Natal, foi lançado em agosto de 2000, para mostrar trabalhos e atividades desenvolvidas pelos alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental e também do Ensino Médio.
SUPLEMENTOS
        Além dos jornais totalmente dedicados às crianças, deve-se mencionar também os suplementos infantis de jornais noticiosos. No ano de 1959, por exemplo, o Diario de Natal começou a publicar, a partir do dia 9 de junho, a página-suplemento “Recreio”. Fixou-se a sua publicação semanal às terças-feiras. Apresentava contos infantis, passatempos, poesias, curiosidades e até uma “Enciclopédia Mirim”. A página era organizada por Serquiz Farkatt, com ilustrações pelo desenhista Poti (pseudônimo de José Potiguar Pinheiro).
       Aliás, foi em “Recreio” que Poti lançou a estória em quadrinhos “O Fogo Através dos Tempos”, de conotação hamliniana (v. “Brucutu”, ou “Alley Oop”, no original), e que marcou o quadrinho norte-riograndense (antes do Grupehq) como a primeira produção no gênero, de um artista da terra, publicada aqui mesmo, em jornal local. Na década setenta (anos 70), o Diario de Natal lançou o caderno “O Diarinho” (precisamente a 22 de agosto de 1977), com quadrinhos de Maurício de Sousa, uma página de Divertimentos (enigmas, cruzadismo) e fotos de crianças.
       É também da década 70 o suplemento “Tribuninha”, do jornal Tribuna do Norte, que publicou também os quadrinhos de Maurício de Sousa, jogos, adivinhações, poesias infantis. Seguindo o exemplo do fundador do jornal, Aluízio Alves (que, ainda menino, aos 11 anos, já lançava seu jornal “O Clarim”, todo datilografado, em Angicos), a “Tribuninha” valorizou e incentivou a criatividade artística das crianças natalenses, inclusive promovendo concursos para os mini-leitores produzirem versões quadrinizadas de famosos contos de fada universais.
      Também compreendendo que as crianlas devem ser levadas a sério no contexto jornalístico, e que a sua educação cultural deve ser cuidada inclusive na formação do hábito de ler jornais, o extinto jornal da Imprensa Oficial, A República, manteve de 17 de dezembro de 1978 a dezembro de 1983 o suplemento “A República Infantil”; para o qual se comprava, através de mala direta, o excelente material do desenhista baiano Luiz Cedraz (quadrinhos, lições de desenho e páginas para colorir). Além da prata da casa, como os contos infantis do funcionário Ivanaldo Xavier.

        
Em 1988, houve o lançamento do suplemento “JN Infantil”, do Jornal de Natal, e produzido por Gruphq Produções. Também quase a mesma fórmula dos outros: quadrinhos, passatempos, desenhos para colorir, galeria de fotos de crianças (com legendas informando nome completo e data de nascimento). Um diferencial: publicou-se uma quadrinização dos fatos históricos da libertação dos escravos em Mossoró (“30 de setembro, quebram-se as algemas”), com texto de minha autoria e desenhos por Adrovan. Aliás, o suplemento também publicou mini-contos de minha autoria.                                    

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