11 de julho de 2014

Mons. Walfredo Gurgel – Precursor da paz pública no RN


                                                                     Salete Pimenta Tavares

          “O Padre é bom de urna”. Esta é uma frase que ficou famosa, na vida pública do sacerdote, poeta, político e ex-governador do Estado do Rio Grande do Norte, Monsenhor Walfredo Dantas Gurgel.
Antes de entrar para a vida pública e antes de ser ordenado sacerdote (ordenação esta realizada no dia 25 de outubro de 1931, em Roma), ele já havia recebido o grau de doutor em Direito Canônico e colou grau em Filosofia (1928) e depois de ordenado o grau de Teologia (1932) na Universidade Pontifícia Gregoriana de Roma.

Chegando ao Brasil, entre as suas inúmeras funções religiosas, foi Capelão do Hospital das Clínicas e do Orfanato Padre João Maria em Natal, professor, Vice-Reitor e Reitor do Seminário São Pedro em Natal, Vigário de Acari e da Diocese de Caicó, e teve a honra de exercer a função de camareiro do Santo Padre Pio XII, no ano de 1955. (v: livro “400 nomes de Natal” – Coordenação Editorial Rejane Cardoso – Prefeitura Municipal de Natal – Ano 2000).

Antes, também, de ser eleito para exercer as funções do Executivo no Estado, já tinha sido eleito Deputado Federal em 1945, Senador da República em 1962 e Vice Governador do considerado grande líder político do Rio Grande do Norte, Aluísio Alves. Nas eleições para 1965, foi eleito Governador do Estado, tendo como vice-governador Clóvis Mota. Apesar de uma campanha acirrada, onde a preferência parecia ser para o candidato da oposição, Dinarte Mariz, com o seu Slogan “O Velho Tinha Razão”, a “Cruzada da Esperança”, como era conhecido o Slogan do Partido de Aluísio Alves, foi mais forte e Monsenhor Walfredo venceu as eleições. Tomou posse na tarde do dia 31 de janeiro de 1965. Sempre se comportou como um diplomata, recebendo correligionários e adversários da mesma maneira e nunca se ouviu falar em perseguição no seu governo. Monsenhor Walfredo era considerado o continuador das metas do ex-governador Aluísio Alves. No entanto, na sua administração não pode realizar grandes empreendimentos, pois uma das suas maiores preocupações era resolver os problemas financeiros deixados pelo seu antecessor Aluisio Alves. (v: livro “Da Brejeira ao Rabo de Palha – Uma História dos Governos do Rio Grande do Norte”, de José Ayrton de Lima – Natal – 1986).

Mesmo assim ainda realizou obras importantes como o Hospital Pronto Socorro de Natal, hoje denominado Hospital Walfredo Gurgel; uma nova ponte de concreto armado, substituindo a antiga ponte de ferro de Igapó; construiu e recuperou milhares de escolas e estradas; implantou asfalto em várias rodovias do Estado; recuperou prédios da Polícia Militar e ainda adquiriu novas viaturas.

Com a Revolução de 31 de março de 1964, encerrava-se com Monsenhor Walfredo Gurgel, a administração de governadores eleitos e iniciava-se o período de governadores indicados. O Comando Revolucionário recebia e analisava os currículos e a vida pública dos indicados e com o aval da Presidência da República os candidatos eram nomeados. O primeiro governador nomeado para o Estado do Rio Grande do Norte foi Cortez Pereira, nomeação esta feita pelo o então Presidente da República, General Garrastazu Médici.

Depois do governo Cortez Pereira, veio a indicação e nomeação do Dr. Tarcisio Vasconcelos Maia, que já havia assumido o cargo de Secretário de Educação e Cultura do Estado no Governo de Dinarte Mariz e participado da criação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Após o governo do Dr. Tarcisio Maia, outro médico foi indicado para governar o Estado, o Dr. Lavoisier Maia.  

Outros padres também governaram, individual ou coletivamente, o Estado antes de Monsenhor Walfredo. Participavam de Juntas como a Junta Constitucional Provisória cujo Padre, Francisco Antonio Lumechi de Melo, governou o Estado de 03/12/1821 a 07 / 02 /1822. Outro que governou o Estado foi o Padre Manuel Pinto de Castro, Presidente da Junta de Governo Provisório, que foi constituída e empossada a 18/03/1822 e governou até 24/01/1824; da mesma Junta participou o Padre João Francisco Fernandes Pimenta. O Padre Manuel Pinto de Castro governou ainda como membro do Conselho de Governo: de 04 a 24/09/1832 e de 08/10/1832 a 23/01/1833. Padre Bartolomeu da Rocha Fagundes, 6º Vice-Presidente da Província, governou de 29/07 a 06/08/1868. Monsenhor João da Mata Paiva, como Presidente da Assembléia Legislativa assumiu o governo, na ausência do Governador Rafael Fernandes Gurjão, governando de 13/06 a 02/08/1936. O Monsenhor Walfredo Gurgel foi, portanto, o único  padre que governou o Estado por eleição direta do voto popular, e não por participar de órgãos coletivos.


Um comentário:

  1. Realmente, o monsenhor Walfredo Gurgel, escolhido por Aluizio Alves, foi eleito pelo voto popular, não perseguiu ninguém, mas ele assumiu o Governo do RN em 1966, após eleito em 1965, ano das últimas eleições livres durante o regime militar.Estou certo ou errado?
    E mais: antes de entrar na vida pública, através do PSD, o padre Walfredo Gurgel foi liderança da Ação Integralista Brasileira-AIB no Rio Grande do Norte e esteve na Serra do Doutor, em novembro de 1935, após o tiroteio entre sertanejos e integralistas contra os rebeldes.

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