10 de fevereiro de 2014

Heróis do Remo



O Rio Potengi faz parte das minhas lembranças de criança, tempo de descobertas, época em que a imaginação infantil me levava para os mistérios do rio Grande dos portugueses e dos comedores de camarões dos potiguaras. Lembro da passagem pela ponte de Igapó, ficava maravilhado com a beleza das águas, já naquela época castigada pelas salinas e projetos embrionários de carcinicultura, intervenções humanas que redesenharam o leito do velho e bom rio.

Cresci ouvindo várias histórias sobre o rio Potengi. Rio dos Potiguaras, rio do Rifoles, rio Grande dos portugueses, porto de entrada dos holandeses, algozes de Cunhaú, rio Salgado de gamboas e camarões.

Lembro do raid Natal – Rio de Janeiro e fico imaginando nossos remadores, numa iole, enfrentando o mar, época em que não havia GPS ou telefonia móvel. E mais: não tinham o apoio das velas, contavam literalmente com os braços.



A história desse raid descobri, por meio de João Alfredo, no livro “Heróis do Remo”. Em suas paginas o relato de uma verdadeira epopeia. O sonho de chegar á antiga capital federal a remo surgiu numa conversa de amigos, ocorrida no ano de 1936, na praia de Genipabu. Este sonho foi realizado em duas etapas: num primeiro momento participaram Ricardo da Cruz, Antônio de Souza, Clodoaldo Bakker, Oscar Simões e Francisco Madureira. O projeto gestado em Genipabu, somente foi autorizado pela Marinha do Brasil 16 anos depois, em 1952.

Na manhã do dia 30 de março de 1952, a cidade de Natal amanheceu em festa: os heróis do remo partiam do rio Potengi em direção da Guanabara. A multidão ovacionava os tripulantes da iole Rio Grande do Norte I. Não existiam cores de nenhuma agremiação náutica. As cores levadas pelos atletas do remo, eram as cores da terra potiguar. Em cada enseada, escolhida para descanso, nossos heróis eram recebidos com festa, muitas foram as medalhas oferecidas pelas Câmaras Municipais no trajeto da iole.

Mas nem tudo foram flores, pois o mar é bravio. Na costa sergipana, a iole Rio Grande do Norte I, não resistiu à força do mar. Conta João Alfredo em seu livro: “Sobre a iole rebentou um vergalhão. Não houve tempo para nada. Com muito esforço conseguiram nossos heróis nadarem até à beira-mar. Da iole, só conseguiram salvar os remos”. Tudo perdido? Não, pois fazia parte deste grupo um “brasileiro que não desiste nunca”, Ricardo da Cruz.

No dia 11 de fevereiro de 1953, o raid reiniciou, a partir de Sergipe, no mesmo Mangue Seco, que no dia 2 de junho de 1952 nossa iole Rio Grande do Norte I naufragou. Fizeram parte desta segunda etapa: Luiz Enéas, Antônio de Souza, Ricardo da Cruz, Walter Fernandes e Oscar Simões. Etapa consagrada com a chegada na Guanabara. A antiga capital Federal abraçava entusiasmada os Heróis do Remo, com desfile e exposição da iole Rio Grande do Norte II, na Cinelândia, marcando a comemoração do grande acontecimento. A BBC de Londres classificou esse raid, como o maior feito náutico do mundo. Histórias de heróis, como esses do remo devem chegar ao conhecimento das novas gerações.

Fonte: NETTO, João Alfredo Pessoa de Lima. Heróis do Remo. Natal: Clima, 1987.



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