Por
Flávio Rezende*
Já habitando este amável e aprazível planeta há priscas eras, os seres humanos
vão formatando e pondo em prática leis que regem suas convivências familiares,
sociais, políticas, religiosas, econômicas e tantas outras, tornando mais
agradável nossa passagem por aqui e, evitando que grupos imponham suas vontades
pela utilização da força física ou do poder econômico, ao menos em tese.
Além destas leis, decretos, bulas ou normas contidas em códigos, constituições,
encíclicas e tratados variados, que mudam de países para países e, levam
em conta, questões culturais, políticas e religiosas, temos as leis que podem
ou não ter adeptos, geralmente originárias no seio da população e, tornadas
universais pela literatura ou pela oralidade, sendo uma das mais célebres a lei
do carma, que anuncia que toda ação tem como consequência uma reação, similar a
terceira lei de Newton, na física.
Outra lei bem popular no planeta que habitamos
é a lei de Murphy, que anuncia que se algo pode dar errado, dará, tendo ainda
aquela de Gérson, do sujeito que só quer ter vantagem em tudo.
Ultimamente, em decorrência de alguns problemas das grandes cidades que estão
jogando âncora em nossa outrora pacata cidade do Natal, tenho procurado
utilizar muito a lei do contente, ou jogo do contente como tornou popular a
Pollyana quando disse que, “o jogo é exatamente encontrar, em tudo, alguma
coisa para ficar contente, não importa o quê".
Sendo uma pessoa naturalmente otimista e,
confesso, crente na lei do carma, nunca tive dificuldade de aderir ao jogo do
contente, instalando-o em minha constituição pessoal, como causa pétrea, até
por uma simples questão de sobrevivência.
Ouvimos os médicos, terapeutas e gurus da saúde anunciando a todo tempo que a
maior causa das moléstias que nos acossam são de origem psíquica num primeiro
momento. Então para nos livrar das mazelas pensamentais que estão sempre
sombreando nosso existir, precisamos tomar doses homeopáticas e constantes de
otimismo, digerir e rapidamente evacuar o ódio, a ganância e a inveja, como
preventivos de uma vida mais saudável.
Enfrentamos no cotidiano problemas como engarrafamentos, filas, impostos a
pagar, notas baixas dos filhos, contas que só aumentam, notícias negativas de
toda espécie, emburrecimento inacreditável e epidêmico da população, com
assassinato da grafia correta e da pronúncia histórica da nossa língua, tornando
nosso pseudo maravilhoso existir, cheio de armadilhas e de perigos constantes.
Diante de todas as mazelas, obstáculos e negatividades, só mesmo o jogo do
contente para suavizar a travessia e evitar que descambemos de vez para a vala
dos seres que só vivem de reclamar, de achar tudo ruim, de reverenciar o
passado e taxar o presente de insuportável, ampliando mais ainda as agruras da
contemporaneidade.
Se está num engarrafamento aproveite para ler páginas de um livro, ver as
mensagens do seu celular. Se as tronchuras chegam via família, liseu ou
mandinga alheia, respire fundo, veja que radicalizar e reagir de forma muito
violenta é gol contra.
No jogo do contente você só ganha. Tenho sido um fiel praticante, com
esporádicas falhas, claro, mas quase um devoto fervoroso. Meu testemunho é que
Pollyana tem toda razão, “o jogo é exatamente encontrar, em tudo, alguma
coisa para ficar contente, não importa o quê".
Vá jogando, você merece ganhar essa parada.
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