Luciano
Capistrano - @lbjg2capistrano
O
Alecrim foi oficializado bairro, em 1911, através da resolução
assinada pelo Presidente da Intendência (antiga denominação da
Prefeitura), Joaquim Manuel Teixeira de Moura. Nascia, assim o quarto
bairro de Natal: Desmembrado da Cidade alta, tendo por limite ao
norte uma linha que, partindo da ponta de Areia Preta, se dirige,
pela rua Ceará-Mirim e Baldo, ao rio Potengi; a leste, o oceano até
encontrar a avenida sul, que demora no extremo do terreno patrimonial
do munícipio; ao sul, a mesma avenida limite do patrimônio
municipal até o rio Potengi, até encontrar o ribeiro que banha o
sítio denominado de Oitizeiro.
O lugar onde foi delimitado o
bairro do Alecrim, tem uma história de ocupação que remonta o 23
de outubro de 1911. Dois equipamentos urbanos instalados o Cemitério
do Alecrim ( 1856) e o Lazareto da Piedade (1882), foram as primeiras
ações do poder público nessa região, uma demonstração que o
bairro já nascia com a estigma de abrigar aquilo que a cidade queria
longe de seus limites urbanos.
Durante
a formação urbana de Natal, o bairro exerceu, e, ainda exerce, uma
importância econômica significativa para a cidade. Caro leitores,
Natal era uma cidade sitiada, uma cidade de difícil acesso, muitas
eram as barreiras naturais. O oceano, o rio e dunas, eram obstáculos
a serem vencidos por aqueles que habitavam e visitavam a capital
potiguar do passado. Existem relatos, do inicio do século XX, sobre
a dificuldade de acompanhar um cortejo fúnebre, pois, não era fácil
sair da Ribeira e acompanhar o finado até o alto do Baldo, enfrentar
um verdadeiro areal e chegar no Cemitério do Alecrim, muitas das
famílias abastardas da cidade faziam o translado do corpo de trem
até o Oitizeiro, hoje nas mediações da Cosern.
Bem
a cidade cresceu, e o bairro, antes, uma área suburbana, formada por
granjas, começou a se desenvolver, fruto inclusive de umas das
características mais presentes: o comercio. O professor Itamar de
Souza, diz que um dos nomes do Alecrim, Cais do Sertão, advém por
ter servido de pouso dos viajantes oriundo do interior e de outros
estados que procuravam a Capital Natal, para vender ou resolver
assuntos relacionados a administração estadual. Bem o fato é que
uma rede de pequenas pousadas surgiram dessas necessidades.
A
feira do Alecrim, lugar de sociabilidade tradicional de Natal, logo
se transformou num grande centro econômico. Em um domingo de 1920,
João Estevam e alguns amigos, organizaram a venda de suas
mercadorias na avenida 1, avenida Presidente Quaresma. Na década de
1940, durante a administração do prefeito Gentil Ferreira, a feira
passou para o sábado. Assim, desde então, sábado é dia de feira.
Durante
o período da Segunda Guerra Mundial, o Alecrim, como toda a cidade,
sofreu um grande impacto populacional, militares e civis, chegados a
cidade em decorrência do chamado esforço de guerra, com a
instalação em solo potiguar da Base Aérea de Natal, hoje de
Parnamirim. Natal Trampolim da Vitória, testemunhou, também, a
construção da Base Naval de Natal, no Bairro do Alecrim, fato este,
que serviu de um novo impulso para a urbanização do lugar. Com a
instalação da Base e da Vila Naval, o contingente populacional fez
do Alecrim o bairro mais populoso de Natal. Ficando, apenas na
memória, o antigo bairro descrito por Câmara Cascudo em sua
História da Cidade do Natal: Raríssimas
pessoas habitavam o descampado. Era terra de roçados de mandioca e
de milho, zona de caçada para os morros. Umas quatro casinhas de
taipa, cobertas de palha, sem reboco, denominadas de capuabas,
estavam dispersas num âmbito de légua quadrada ( CASCUDO, p. 441,
2010).
Umas
das singularidades do Alecrim é a numeração de ruas e avenidas,
avenida a1, avenida 2 e assim por diante. Em 1929, o prefeito Omar
O’Grady solicitou ao IHGRN nomes de Presidentes da Província e de
tribos indígenas, deste modo as avenidas 1 ( Pte Basílio Quaresma
Torreão ); avenida 2 ( PTE João Capistrano Bandeira de Melo);
avenida 3 ( Josá Bento da Cunha Figueredo Júnior); avenida 4 (
Cassimiro José de Morais Sarmento ); avenida 5 Presidente Pedro Leão
Veloso ) governadores do período imperial e avenida 6 ( Rua dos
Canindés ); avenida 7 ( Rua dos Caicós ); avenida 8 ( Rua dos
Pajeús ) avenida 10 ( Rua dos Paianazes ); e avenida 12 (rua dos
Paiatis) tribos indígenas. Muitos creditaram a presença americana
a numeração das avenidas, o Historiador Itamar de Souza, em sua
Nova História de Natal, apresenta uma série de publicações da
Intendência Municipal, datadas de 1908, 19010, por tanto antes de
1911, fazendo referências a logradores localizados no Alecrim com
numeração, esta documentação confirma assim a não influência
norte-americana na nomeação das avenidas.
Um
bairro de muitas histórias, pioneiro no cinema falado em nossa
cidade, do teatrinho do povo ( Teatro Sandoval Wanderley ), do Teatro
Jesiel Figueiredo, do Cinema São Luís e outros lugares da sétima
arte.
Caro
leitor, deixo aqui um convite a todas e todos, andemos pelas ruas do
velho e bom Alecrim, cantemos como o poeta Babal:
“Os
guaranis festejando a paz
O
guerreiro Bumbum
Éramos
todos devotos, meninos fiéis
Quando
não era possível ter sonho
A
gente tinha um
E
ele girava em torno da Avenida Dez”.
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