16 de janeiro de 2014

A imprensa é preconceituosa?

A imprensa é preconceituosa?
Eu não duvido.


Luiz Gonzaga Cortez.
Nós somos copiadores e imitadores. E preconceituosos. De quê? De tudo. Mas, um lembrete: vou escrever sobre o comportamento dos nossos ilustres colegas jornalistas brasileiros. Além da decadência do jornalismo investigativo, aliás, acompanhando o rumo (ou sem rumo?) da grande imprensa do eixo Rio de Janeiro - São Paulo-Brasília, que de “grande imprensa” só tem a fama, os repórteres e redatores dos jornais potiguares foram contaminados pelo vírus da copiação, da imitação e da cultura preconceituosa. E imitam errado. Como, rapaz, diga aí? Vamos devagar.
Observem o noticiário da imprensa do eixo que antigamente era chamado de “sul maravilha” e as notícias dos jornais diários da província potengina sobre um assunto atual: a caixa com os gravadores do avião da Air France que caiu no Oceano Atlântico em 2009, no trajeto Rio de Janeiro-Paris. Essas caixas são laranjas (outros dizem que são rosas, vermelhas), mas os jornais e televisões do Brasil chamam-nas de “caixas pretas”. Elas sempre foram laranjas para facilitar a sua identificação na terra e no mar e em qualquer lugar do planeta. Você já pensou uma caixa preta no fundo do oceano, a três, quatro ou cinco metros de profundidade, ao lado ou dentro de possíveis vegetações marinhas? Claro, seria mais difícil a sua localização. Mas, todos os comunicadores já estão habituados a tachar de preta, negra ou preto os eventos e acontecimentos ruins. Recentemente, a Tribuna do Norte fez uma chamada de primeira página intitulada de “noite negra no futebol brasileiro”, se reportando as derrotas de times do América e do Grêmio, no Brasil e num país vizinho. E a matéria na página interna acompanhava a chamada de capa. Essa “cultura” já está incorporada na imprensa nacional? Creio que sim. “A coisa tá preta”, uma expressão preconceituosa que ouvimos desde criança, é dito quando se refere a uma situação ruim, difícil e desagradável.
Ou exemplo: estive numa casa de câmbio no “Praia Shoping”, na avenida Roberto Freire, e vi um pequeno cartaz com os seguintes dizeres: “Mercado negro é crime federal”. Aí eu pergunto: onde está o mercado branco, o mercado amarelo? Cambiar moedas estrangeiras se faz em qualquer esquina deste país, nas calçadas de bancos particulares e estatais. A moda agora é cambiar nos bares e restaurantes chiques, digo, freqüentados por pessoas de maior poder aquisitivo. O cartaz da casa de cambio não poderia se referir ao criminoso mercado paralelo?
È por isso que concordo com Alberto Einstein (1879-1955), cientista alemão naturalizado americano, quando disse que “è mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.
Além de preconceituosa, a imprensa e a mídia nacional é imitadora e copiadora do que se diz, do que se veste, do que se usa, no estrangeiro. E nós embarcamos nessa canoa. Estamos copiando o que se diz e se faz nas televisões do novo “Eixão” (Rio de Janeiro-São Paulo-Brasília). Querem um exemplo? Trocaram a palavra comum por recorrente. Quando querem dizer que o caso é comum, os empavonados apresentadores e noticiaristas da Globo e das demais redes de televisão dizem que o caso é recorrente. Mestre Aurélio diz que recorrente é quem recorre de um feito judicial, de uma sentença para outra instância superior, etc. Vejam os dicionários. E substituíram a palavra classificação por “ranking” (palavra americana que significaria colocação nos campeonatos de voleibol nos EUA). Em tempo: Cascudo, na década de 30, escreveu que copiamos tudo do estrangeiro. Menino, essa cultura obtusa é antiga...

Luiz Gonzaga Cortez, jornalista.

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