18 de dezembro de 2012

Os melhores filmes vistos nos anos 60

                     
Anchieta Fernandes

         O cinema Rex, situado no espaço, à Av. Rio Branco, onde hoje estão as lojas Insinuante e Express, teve uma bonita história na vida cultural de Natal. Idealizado e concretizado por Enéas Reis e Francisco Nogueira do Couto (Xixico, conhecido capitalista nos anos 30), ficou como mais um cinema da empresa Rex, administradora também dos cinemas Rival (na Ribeira), Royal (na rua Ulisses Caldas) e São Pedro (no Alecrim).
          O Rex seria o primeiro cinema no Grande Ponto, ao lado do prédio da representação da Cruz Vermelha na cidade. Sua planta foi traçada pelo arquiteto Heitor Maia Filho e a construção do prédio esteve sob a direção do engenheiro Omar O`Grady, que já havia sido prefeito de Natal, criando o seu primeiro Plano Geral de Sistematização. O novo cinema foi inaugurado a 18 de julho de 1936 com o divertimento musical “Melodias da Broadway de 1936”, produção da Metro Goldwyn Mayer, enviada pela referida companhia, por via aérea, especialmente para a inauguração da nova casa de espetáculos cinematográficos de Natal.
          Na tela do Rex, depois, foram mostradas muitas obras-primas da Sétima Arte. Vejamos algumas, ou que pelo menos se aproximam desta categoria, e que marcaram a década 60 do espectador natalense no século passado com visuais e timbres qualitativos inesquecíveis, além do humanismo dos enredos. Lembre-se, por exemplo, Um Rosto na Noite, filme com o qual, em 1957, o diretor italiano Luchino Visconti antecipou-se a Antonioni e sua trilogia famosa (“A Aventura”, “A Noite” e “O Eclipse”), com o enfoque preciso de um fotógrafo sensível (como o Giuseppe Rotunno deste filme), na beleza estética de um preto-e-branco a comunicar o trágico sentimento de seres solitários. O filme estava em cartaz no Rex a 01 de maio de 1960.
         Um ano depois, precisamente a 11 de maio de 1961, o velho cinema trintenário dava de presente ao nosso espectador a magia do filme de marionetes Velhas Lendas Tchecas. Realizado em 1953 pelo mestre Jiri Trnka, consegue, com a linguagem de um verdadeiro cine-balé, iluminar de forma bem criativa a história e o folclore de um povo, os filhos da Tchecoslováquia.
        Seguiu-se, em 1962, a exibição da grande obra-prima da nouvelle vague, o filme que às vezes lidera listas dos melhores filmes de todos os tempos (como aconteceu na escolha da crítica cinematográfica, que em março/abril de 1980, pôs em primeiro lugar para o suplemento cultural “Contexto”, do jornal “A República”, o referido filme): Hiroshima, Meu Amor, realização de 1959 de Alain Resnais, e que estava em cartaz no Rex a 06 de maio de 1962, trazendo uma revolução de linguagem (planos-sequência, imagens trabalhadas em laboratório, junção de cenas em incríveis visualizações de flashes de ao mesmo tempo memória e esquecimento, documentários crus dos efeitos da bomba atômica sobre o cenário urbano e sobre as pessoas) para formar um novo tipo de espectador.
           Quando o Cine Clube Tirol criou as sessões do Cinema de Arte, escolheu o Rex para nele serem exibidos os filmes, começando com o ótimo Glória Feita de Sangue, do diretor Stanley Kubrick, de 1957 e em sessão de 16 de fevereiro de 1963. É uma forte denúncia do carreirismo dos oficiais superiores durante a Primeira Guerra Mundial, que não se pejam de contribuirem para o massacre dos seus soldados, contanto que a honra deles, oficiais, não seja atingida.
         Na seqüência, o cinema Rex mostrou outro ótimo filme, de autoria não de um norte-americano mas de um brasileiro, um dos criadores do movimento cinema novo. Trata-se de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de 1959, de Glauber Rocha, de teor revolucionário (em tema e linguagem), visto em sessão de 04 de outubro de 1964. E a 28 de abril de 1965, sendo exibido El Cid, bem realizado épico histórico, por Anthony Mann, em 1961.
         Vieram, em seguida, a ser apresentados no Rex, obras-primas inesquecíveis: Os Reis do Iê-Iê-Iê, de 1964, de Richard Lester, exibido a 26 de janeiro de 1966; Sempre aos Domingos, de 1962, de Serge Bourguignon, exibido a 18 de julho de 1967; O Eclipse, de 1962, de Michelangelo Antonioni, exibido a 03 de março de 1968; e O Fofoqueiro, de 1967, de Jerry Lewis, exibido a 18 de outubro de 1969.
         O cinema Rex fechou as portas após a sua última sessão, que foi na noite de 30 de julho de 1984, exibindo o filme A Morte em Minhas Mãos, feito em Hong Kong pela dupla de irmãos Rumne e Run-Run, da Show Brothers Company, sem um mínimo de qualidade, ao contrário do que se pode deslumbrar em outro filme de caratê, O Tigre e o Dragão, do consagrado diretor Ang Lee.

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