29 de março de 2021

ESTÓRIAS DE CONTAR

 Bené Chaves


               Naquela noite de lua cheia Painhô carregou minha mãe pelo braço e foram os dois pro alpendre. Tia Chica ficara na cozinha preparando outra de suas iguarias. E os dois começaram a repassar dias gloriosos. Ela, a lhe contar que estava muito feliz desde que o conhecera. Dizia então: vim traçar com você o meu destino e não me arrependo. Vê como são as sinas da vida!...
               Meu pai deitou na rede e, ao invés do violão, começou a contar fatos do passado. Somente os dois ali, ao som de um silêncio abismal. E falou da estória famosa do pote, que ficou conhecida naquela região e circunvizinhanças:
               Numa reunião quase semanal que era feita na casa de um amigo, todos se entretinham no jogo de cartas ou então em conversas de jogar fora. E algumas cervejinhas ao lado, que ninguém é de ferro. Portanto, a noite distendia-se salutar quando um dos presentes pediu um copo d’água. Mas, como a dona da casa estava ocupada em fazer petiscos, solicitou que tal pessoa não se envergonhasse e fosse beber tão precioso líquido.
              A casa era meio esquisita e pra se ir até a cozinha, tinha-se de passar pelo corredor que levava aos dormitórios. E lá se foi o impávido cidadão, brejeiro e arteiro, em busca do seu desejo.
              Contudo, passaram-se alguns minutos e nada do indivíduo voltar. Daí, depois de breve intervalo, retorna ele mais alegre do que pinto em beira de cerca. E como se tivesse saciado toda sua sede. (Registre-se aqui de que pinto em beira de cerca fica contente porque toma banho nas lagoas das imediações, evidenciando com isso seu refrescamento e sentimento de alegria).
              O ditoso sujeito, portanto, confidencia aos companheiros o que ocorrera... E logo a seguir os demais seguem em fila, um a um, o itinerário estranho e curioso. Porém, volta e meia, a sede ataca novamente àqueles já saciados.
              Desconfiada, pois o marido estava grogue, a anfitriã vai olhar o sucedido. E depara-se no corredor com a porta do quarto semi-aberta. Ali, ela descobre o motivo de tanta sede. Sua filha dorme numa posição sensual e convidativa aos olhos dos sequiosos. E bote atração nisso!
             Vexada e confundida, a esposa grita em alto e bom som ao marido já alcoolizado: chega Gusmão, vem ajeitar tua filha senão eles secam o pote! Apesar do mesmo, lógico, ainda conter água escorrendo pelo gargalo.
             Tia Chica grita que a janta está esfriando. Os dois ficaram tão absortos que não sentiram o cheiro vindo lá de dentro e tampouco o chamado da preta velha.


                                      

Nenhum comentário:

Postar um comentário