Bené Chaves
Bem
que sua mãe dissera: um menino bonitão e querido. As mocinhas se inquietavam
com sua presença. Desde cedo com as manias não sei de quem. Cresceu neste
diapasão.
Tartamudeou
uma frase mal ouvida e apertou-a contra si. Não a frase e sim a jovem moça que
segurou seu braço e evitou uma aproximação mais ousada. Ali, tido como um rapaz
conquistador, de vez em vez aparecia e parecia se mostrar. Ajeitava-se sempre
ao espelho e ficava quase uma hora alisando o cabelo ensebado na brilhantina.
Um narcisista.
- Vamos, deixe de ser boba –
puxando a alça frouxa ao ombro.
- Não, não, você tá doido? - a moça enfiando os olhos no chão.
O tempo inteiro lutando, uma
angustiada e desesperada batalha se travava entre eles, às vezes chegavam a
rolar pelo encerado, vestes rasgadas, violência no aconchego. Ela um tanto
difícil, não via muito esse lado, ele um sujeito tipo dom juan, amedrontava uma cidade inteira. As mulheres apavoradas,
no bom sentido.
- Que é isso, você não me
conhece?
- Conheço sim.
- Então!...
- Também você só pensa nessas
coisas...
- História sua, não só penso
nisso não.
- Tá bom, tá bom...
Arrumou-se e
saiu desconcertada, era muito tarde. Abriu a porta e disse ao pai, me atrasei
hoje, um serviço extra apareceu, o velho a olhá-la com o rabo do olho. Subiu e
trancou-se no banheiro a lavar-se com sofreguidão, depois deitando na cama a se
emaranhar no travesseiro.
O dia seguinte
foi sem novidades, um bom-dia pros amigos e sempre o jeitão de rapaz
conquistador. Sentou-se numa cadeira e começou a rodar um lápis com os dedos,
imaginando-se senhor de atrações. As máquinas, contudo, metralhavam papéis:
indignou-se e saiu.
“Mulher é sexo”, dizia pra si enquanto caminhava
a meter os olhos nos corpos femininos e sacudidos. Soltava uma piada e se fazia
sisudo olhando sério pra frente. Um sujeito, claro, mulherengo e também
gozador.
Seguidamente
arranjava uma companheira, diziam ser um furor na cama, já agora com a idade de
quarenta e tantos anos. No quarto, uma afeição, uma tapeação. Fora, outra cara,
vivendo a tentar seduzir todas as mulheres bonitas do bairro. Quer dizer: era
de mão cheia. Não deixava passar uma.
Mas, com o
passar do tempo, o seu domjuanismo foi
sumindo, perdia conquistas, não sustentava dias seguidos, três por semana. E
olhe lá, nem tanto. Ficava enfurecido com tal situação. Saiu cedo de casa e
sentou-se num banco do jardim público. Parecia chateado a bater com a mão na
tábua. A idade lhe batendo no rosto.
- Oi, que que há, esperando
alguém?
- Opa!, Você por aqui?
- Ia passando, coincidência, não?
- e a mulher alisou o cabelo.
- Tá apressada? Senta... – disse
ele amaciando o queixo.
- Você, o que anda fazendo? –
sentou-se distante dele.
- Na mesma vidinha de sempre, uma
aqui, outra ali...
- Uma aqui o quê?
- Mulher, ora! – e tentou
aproximar-se.
- Bem, acho que já vou...
- Tão cedo assim?
- Mamãe me espera pra umas
compras, até outra vez.
Ficou de olho
grudado no traseiro da moça e no final viu uma pequena bola circulando seu
globo ocular. Reconheceu-se um pouco velho, as mulheres enjeitando sua
fisionomia meio enrugada, ele sozinho lembrando com tristeza a vida de outrora.
Vidona boa, potente! Sem resguardos.
Resolveu ir
pra casa, entrou e foi pro aposento. Quando menos esperou olhou-se no espelho e
estava de cabelos brancos: assustou-se. Virou para o lado e se deixou cair na
cama com lassidão.
Vez
ou outra, porém, não esmorecia, conquistava com a lábia atrevida alguma mulher
que surgisse. Uma noite saiu com uma de fazer inveja aos jovens, inclusive a
mim também. Estava ele a olhar uns rapazes nalguma manifestação quando notou
alguém aproximar-se:
- Olá velhote, tudo bem?
- Ah!, oh!, quem é? Mais ou
menos, mais ou menos.
Diante daquela bela jovem ao seu lado,
levou-a para casa. Tinha feito no dia anterior oitenta anos bem vividos. E
jurou consigo mesmo: homem que é homem morre de pau duro.
Talvez a mulher quisesse fantasiar algo com ele, parecia disposta, o
mesmo a deitar-se nu e suspirando de contentamento, o coração disparando. Deu
um fungado rouco e longo, adormecendo em cima da jovem rapariga. Não suportou
imensa emoção.
Então, ela jogou-o de lado e tentou reanimá-lo. Gritou desesperada. Ele
ali, estirado na cama, com o possuído
ereto. E teria dito horas antes balbuciando para si: “Morro, mas morro
satisfeito”.
No velório algumas pessoas riam diante de uma
saliência dentre suas pernas.
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