17 de maio de 2017

MANUEL FERREIRA NOBRE

                                                                         Manuel Ferreira Nobre

Tolstoi aconselhou, quer buscar o universal escreve sobre tua aldeia. Foi que fez Manuel Ferreira Nobre, nosso primeiro historiador, nascido na cidade do Natal a 21 de março de 1824, filho do Ten. Manuel Ferreira Nobre e D. Inácia de Almeida Nobre. Foi o primeiro norte-rio-grandense a publicar trabalho sobre a província do Rio Grande.  Pesquisando sua biografia encontrei várias datas de seu falecimento. 1896, 1902. Entretanto no Jornal a República está o registro correto com a data de falecimento num ofício do Governador para o Inspetor do Tesouro: “para os devidos fins, comunico-vos que em data de 15 de agosto de 1897 faleceu na Vila de Paparí, hoje Nísia Floresta, Manuel Ferreira Nobre”. Viveu o I e II império onde nada ou quase nada acontecia na província, daí sua preocupação com a limitada vida provincial de então. Pesquisou os vários direcionamentos da vida local, deixando ricas informações sobre o então desconhecido Estado.
         O Rio Grande do Norte do século XIX era pobre em tudo. No entanto a maior pobreza era a intelectual, que ainda hoje nos persegue. Daí, Ferreira Nobre haver feito a diferença. Inteligente, autodidata, boa instrução intelectual numa época com elevado nível de analfabetismo.
         O pesquisador Manuel Rodrigues de Melo presta este enfático depoimento: “Manuel Ferreira Nobre foi, sobretudo um infatigável burocrata; mas no curso de sua vida foi também político, militar, homeopata, enfermeiro, literato, tabelião, advogado provisionado e ainda tendo tempo para apresentar-se como voluntário para a guerra do Paraguai, tendo sido excluído por falta de condições físicas”.
         Para se ter idéia da importância de Ferreira Nobre basta citar sua nomeação para o Cargo de Oficial Maior da Secretaria da Assembléia Provincial, apenas para orientar os legisladores a legislar com conhecimento de causa.
         Numa província sem estradas, enfrentado as mais diversas dificuldades, coletou informações, que reunidas, serviram para constituir o livro “Breve Notícias sobre a Província do Rio Grande do Norte”, cuja primeira edição aconteceu em 1877 pelo Estado do Espírito Santo, a segunda quase cem anos depois, 1971, graças a sensibilidade e entusiasmo do saudoso amigo e confrade Enélio Petrovich presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
        Breve Notícia é a primeira tentativa que se consolidou de uma história do Rio Grande do Norte, que antecedeu os trabalhos mais completo de Luís da Câmara Cascudo (1898-1986),  Tavares de Lyra, Tarcísio Medeiros e outros mais.
        Historiadores, pesquisadores, curiosos, ao manusear este trabalho observarão que o autor reuniu considerável volume de informações dispersas na província, sistematizou-as, mas sem qualquer aprofundamento, daí o modesto título de ‘Breve Notícias sobre a província do Rio Grande do Norte”. Uma obra de interesse histórico que ainda  permanece muito importante para os dias atuais.
        Pelo conteúdo do livro é fácil imaginar que Ferreira Nobre era um intelectual sério, criterioso, de estilo preciso, lúcido, pragmático, preocupado em servir a província. Modesto, sem os lampejos das fogueiras das vaidades rotulou seu livro de “ligeiro ensaio” deixando claro que sua meta era fazer qualquer coisa e o fez, numa época em que pouco se sabia da província num raio de 50 quilômetros quadrados. Guardadas as devidas proporções este documento informativo compara-se á Corogafia Brasílica de Ayres de Casal ou a sumária História do Brasil de Frei Vicente do Salvador.
      Precavido justifica sua iniciativa: “não escrevo a história preciosa e interessante do Rio grande do Norte: publico apenas tradições e pequenas reminiscências, que são sempre agradáveis ao espírito que se alimenta em pesquisar as coisas do meu torrão, por mais estéreis que pareçam”.
Prof. Severino Vicente
Historiador e Folclorista
Presidente da Comissão Nacional de Folclore



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