Tolstoi aconselhou, quer buscar o universal escreve sobre tua aldeia. Foi que fez Manuel Ferreira Nobre, nosso primeiro historiador, nascido na cidade do Natal a 21 de março de 1824, filho do Ten. Manuel Ferreira Nobre e D. Inácia de Almeida Nobre. Foi o primeiro norte-rio-grandense a publicar trabalho sobre a província do Rio Grande. Pesquisando sua biografia encontrei várias datas de seu falecimento. 1896, 1902. Entretanto no Jornal a República está o registro correto com a data de falecimento num ofício do Governador para o Inspetor do Tesouro: “para os devidos fins, comunico-vos que em data de 15 de agosto de 1897 faleceu na Vila de Paparí, hoje Nísia Floresta, Manuel Ferreira Nobre”. Viveu o I e II império onde nada ou quase nada acontecia na província, daí sua preocupação com a limitada vida provincial de então. Pesquisou os vários direcionamentos da vida local, deixando ricas informações sobre o então desconhecido Estado.
O
Rio Grande do Norte do século XIX era pobre em tudo. No entanto a maior pobreza
era a intelectual, que ainda hoje nos persegue. Daí, Ferreira Nobre haver feito
a diferença. Inteligente, autodidata, boa instrução intelectual numa época com
elevado nível de analfabetismo.
O
pesquisador Manuel Rodrigues de Melo presta este enfático depoimento: “Manuel
Ferreira Nobre foi, sobretudo um infatigável burocrata; mas no curso de sua
vida foi também político, militar, homeopata, enfermeiro, literato, tabelião,
advogado provisionado e ainda tendo tempo para apresentar-se como voluntário
para a guerra do Paraguai, tendo sido excluído por falta de condições físicas”.
Para
se ter idéia da importância de Ferreira Nobre basta citar sua nomeação para o Cargo
de Oficial Maior da Secretaria da Assembléia Provincial, apenas para orientar
os legisladores a legislar com conhecimento de causa.
Numa
província sem estradas, enfrentado as mais diversas dificuldades, coletou
informações, que reunidas, serviram para constituir o livro “Breve Notícias sobre
a Província do Rio Grande do Norte”, cuja primeira edição aconteceu em 1877
pelo Estado do Espírito Santo, a segunda quase cem anos depois, 1971, graças a
sensibilidade e entusiasmo do saudoso amigo e confrade Enélio Petrovich
presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
Breve
Notícia é a primeira tentativa que se consolidou de uma história do Rio Grande
do Norte, que antecedeu os trabalhos mais completo de Luís da Câmara Cascudo (1898-1986),
Tavares de Lyra, Tarcísio Medeiros e
outros mais.
Historiadores,
pesquisadores, curiosos, ao manusear este trabalho observarão que o autor
reuniu considerável volume de informações dispersas na província,
sistematizou-as, mas sem qualquer aprofundamento, daí o modesto título de
‘Breve Notícias sobre a província do Rio Grande do Norte”. Uma obra de
interesse histórico que ainda permanece
muito importante para os dias atuais.
Pelo
conteúdo do livro é fácil imaginar que Ferreira Nobre era um intelectual sério,
criterioso, de estilo preciso, lúcido, pragmático, preocupado em servir a
província. Modesto, sem os lampejos das fogueiras das vaidades rotulou seu
livro de “ligeiro ensaio” deixando claro que sua meta era fazer qualquer coisa
e o fez, numa época em que pouco se sabia da província num raio de 50
quilômetros quadrados. Guardadas as devidas proporções este documento
informativo compara-se á Corogafia Brasílica de Ayres de Casal ou a sumária
História do Brasil de Frei Vicente do Salvador.
Precavido
justifica sua iniciativa: “não escrevo a história preciosa e interessante do
Rio grande do Norte: publico apenas tradições e pequenas reminiscências, que
são sempre agradáveis ao espírito que se alimenta em pesquisar as coisas do meu
torrão, por mais estéreis que pareçam”.
Prof. Severino Vicente
Historiador e Folclorista
Presidente da Comissão Nacional de Folclore
Nenhum comentário:
Postar um comentário