13 de janeiro de 2017

Travessa Pax, memória em risco: Uma reflexão.


Luciano Capistrano
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: Parque da Cidade



PAX
Travessa memória,
Patrimônio em perigo.
Travessa rocha, maresia,
Pé de moleque, caminho de um tempo perdido.
Travessa de arenito, ferro, ferruginoso,
Formação barreira, litoral, falésias, som das ondas,
Ecoam gerações inteiras.
Travessa tempo, testemunha da urbe,
Silenciosa, aflita, atordoada grita, chora,
Olha o Potengi, Fortaleza dos Reis Magos,
Dunas, Alto da Torre, o progresso avizinha.
Travessa Tombada, corredor cultural,
Cascudo, Solar Bela Vista, Augusto Severo e Sachet,
O dirigível nos ares de Paris, do sonho de Ícaro ficou,
Patrimônio geológico da cidade Natal.
Travessa degradada, marcas humanas,
Mobilidade urbana, rochas substituídas,
Técnicas perdidas, mãos calejadas, cantarias
De um arenito com cheiro de mar,
Travessa Pax, travessa a cidade de histórias vividas.
(Luciano Capistrano)

A Travessa Pax, hoje é um dos nossos patrimônios históricos em risco de desaparecer. No andar do tempo, me parece, será um dos símbolos de uma época da cidade de Natal a figurar apenas nos empoeirados álbuns ou no mundo virtual, a imagem da travessa com seu calçamento em “Pé de Moleque”, não resistirá ao descaso dos poderes constituídos, IPHAN, Fundação José Augusto, FUNCART, os órgãos responsáveis pelas políticas de preservação de nossa memória material e imaterial, em que pese, algumas almas boas, fazem “vistas e ouvidos de mercadores”, fecham os olhos para a via que está entre a Casa de Câmara Cascudo e o Solar Bela Vista. Em pleno “Corredor Cultural”.
Quando um bem é tombado significa dizer que sua importância e valor são reconhecidos e, portanto, deve ser preservado e “protegido de qualquer dano ou destruição, para usufruto de todas as gerações – presentes e futuras” (CONTE & FREIRE, 2005, p. 39). Este é o caso da Travessa Pax. A fundação José Augusto e a Prefeitura de Natal, reconheceram-na como Patrimônio Histórico e o IPHAN, ao reconhecer o Centro Histórico de Natal como Patrimônio Histórico Nacional, delimitou um perímetro no qual estar inserida a Travessa Pax. Portanto o que não falta é legislação protetiva.
Amigo velho, a preservação da originalidade da primeira técnica de pavimentação utilizada nas ruas da cidade possibilitará as gerações vindouras, o direito a memória.
De rochas
(Para o Professor e Geólogo Marcos Nascimento)
Memórias de uma urbe
A se descortinar
Rochas que contam histórias
De um tempo
De uma gente
Transpira memórias em
Chão de pedras batidas
A erguer identidade
Material / imaterial
De um tempo
Distante que se faz presente
Em praças
Em ruas
Lugares de memórias
Em monumentos
De rochas
Vestígios de historias.
(Luciano Capistrano)

Causa-me náusea sempre que ando por nossas ruas dialogando com meus alunos, e, ou quando organizo circuitos históricos, e, desço a Avenida Câmara Cascudo, ao testemunhar o “desmanche” da Pax.
A mim, um simples historiador e professor de história, me resta a escrita, a indignação traduzida em palavras, espero, assim, contribuir com essa reflexão na formulação de políticas de intervenção, objetivando a preservação de tão importante vestígio de nossa história.
A uma ideia equivocada de que Natal não tem história, a cidade respira história.
Olhemos nossos vizinhos, João Pessoa e Recife, para com eles aprendermos a preservar nosso centro histórico.
Que esta “Travessa Pax, memória em risco: uma reflexão”, provoque outros escritos, incomode, e, deste modo possa ser, para além das palavras, um grito contra a inércia dos organismos responsáveis pelas políticas de preservação do nosso patrimônio material e imaterial.


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