16 de novembro de 2016

Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo


Luciano Capistrano
Historiador: SEMURB/ Parque da Cidade
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli

Professor

O professor disserta
sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo?
Vai repreende-lo?
Não.
O professor baixa a voz
com medo de acordá-lo.
(Carlos Drummond de Andrade)

                O ano 1995, acho que por volta de fevereiro ou março, iniciei minha aventura no magistério, um contrato temporário me levou a lecionar na Escola Estadual Walter Duarte Pereira, escola onde concluir o ensino médio, quanta alegria voltar a frequentar aquele espaço, aquelas salas, a biblioteca, o pátio, a quadra, agora, na condição de professor. E, o maravilhoso de tudo isso, foi o reencontro, com meus mestres, meus professores, ali, naquela escola, no Walter Duarte Pereira, me vi professor, minha escolha fortificou-se e desde então, não larguei mais o oficio de Wilson, Expedito, Marlene, Damião, Socorro,Videncial, e, tantas e tantos professores responsáveis por minhas escolhas.
Sou de uma família de professores, Antônio Pedro de Farias, meu bisavô, por parte de pai, lá na Paraíba exercia este oficio, aqui em terra Potiguar, minha avó materna, Dona Paulina, professora da comunidade do Capim, minhas referências familiares neste meu oficio. Sim, a tradição familiar se fez, tios, primos, sobrinhos, e, não posso deixar de lembrar, da minha casa, com minha mãe, eu criança, me levando para a escola onde ela lecionava, para as turmas iniciais, quantas recordações desse mundo de criança, e, meu pai, professor de história, a ele e a meu tio Antônio, credito minha escolha pelos caminhos de Clio. A história foi o caminho encontrado para o magistério, assim, me fiz professor:



Sou professor

Sou baile de favela
Sou ritmos
De saberes dialógicos
Sou Karl Marx
E seus caminhos sobre a mais-valia
Sou Santo Agostinho
Das suas cidades
A cidade de Deus
A cidade dos homens
Me fiz Freinet
Em sua pedagogia construída
Me fiz Freire
Na sua pedagogia do oprimido
Me fiz historiador
Nos extremos
Do Hobsbawm
Aos caminhos coloniais
De Capistrano
Nesse ofício
Me fiz professor
Ao sabor
Dos africanos
Dos europeus
Dos indígenas
Das lições
De Darcy
Da Casa Grande e Senzala
De Freyre
Das Raízes do Brasil
Me fiz Sérgio
Nesse fazer pedagógico
Verso a escola plural
Não doutrinária
Da escola sem partido
Me fiz crítico
Da poesia
Sem rimas
Faço meu planejamento
Diverso
Dialógico
Contrário à pedagogia
Bancária
Não crítica
Me fiz professor
Crítico.
(Luciano Capistrano)

                Nestes 21 anos, vivi encontros e desencontros com o fazer pedagógico, aprendi com meus companheiros deste labutar, a importância de ousar continuar acreditando na educação como mola mestra das transformações, como disse Rubens Alves, “não plantamos eucaliptos, plantamos carvalhos”, o nosso oficio deixa marcas nas gerações futuras. Como assinalou o mestre Paulo Freire, em sua Pedagogia da Autonomia:
Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo.

            Finalizo, este curto escrito, repetindo, como um mantra, as palavras de Paulo Freire: Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo.Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo.Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo.Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo...



[i] Frase de Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia.

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