16 de setembro de 2016

MONÓLOGOS IMPERTINENTES (1)

Bené Chaves **

Pra começo de conversa vá pra ponte que caiu, pra não revelar ditado pior.   E faça o favor de me deixar sossegada. Que cara mais chato... Fica o tempo todo importunando a gente e ainda por cima quer ter razão. Ora bolas! Não estou aqui pra agüentar chateação de ninguém, ouviu? E vê se sai daí, senão chamo seu pai e ele resolve isso agora. Demais fiquei muito aborrecida com o que aconteceu trasantontem, lembra-se? É... Mas me lembro bem e não pense que vou esquecer assim de um momento pra outro não. Vai ficar aqui, oh, guardadinho na minha cachola. Você pensa que a gente é doida e deixa passar suas maluquices sem quê nem mais, não é mesmo? Está muito enganado... Hein? Taqui pra você! E não adianta ficar imaginando mil coisas. Sei que todos irão dar razão a mim. Cabrinha mais besta! Fica aí com suas travessuras e não assume nada, a gente é que paga o pato, né? Onde já se viu... Deixe-me dizer a sua mãe, sei que ela dará um bom carão em você, meninão do rosto esburacado e branco que nem lesma. Então quero ver você estrebuchar, ora se quero! Você sabe que não gosto de mexer com os outros. E por que toda essa arenga comigo? O que eu fiz? Diga, se tiver coragem.  
Quando acaba fica se fazendo de bicho danado. Hum! Hum! Quer saber de uma coisa? Até que ia dar um presente no seu aniversário. Mas, depois de tudo isso... Oh!, jamais, jamais. Tanto que gostava de você, lembra? Quando era pequenininho eu o levava pra passear na praça, no parque de diversão, a roda-gigante e o trenzinho fantasma, você, oh, todo elegante, de óculos escuros, parecia até gente. E chegava a me beijar pra que eu fosse, lembra disso? Só gostava mesmo de comer bagana, essas coisas desse tipo. Era um dia feliz pra todos nós e eu ficava radiante. Pois é: agora você me dá o troco. Tem nada não, a vida é assim... Um dia atrás do outro e uma noite no meio, uma alegria, uma tristeza, outra surpresa e decepção. Fiquei desgostosa de tudo, não imaginava tal reviravolta, pelo que fiz ou não fiz. Lembro que sua mãe dizia que você gostava de mim pra burro. E seu pai, ah!, nem se fala... Todos me queriam bem. E claro que retribuía suas afeições. Agora você me vem com essa... Estou farta e acho que arrumarei minhas malas e vou embora. Demais, não precisa chorar, viu? Seu fingido! Não foi o único culpado? Tire sua cara de menino velho de cima de mim!
           
            “Não quero ir embora não, até que gostei do que ele fez comigo. Mas a gente não pode dar assim o braço a torcer, não é mesmo? Senão fica tudo muito feio, a gente tem de aparentar não estar gostando, sabe... Como quem ama e não ama. Tenho meu orgulho também. Sei que fui chata com ele, o pobrezinho não merecia, não queria e eu ali insistindo, insistindo, feito gato em cima de gata, que situação triste aquela. Essa vida é mesmo lascada! Lógico que o vi nascer, fui eu mesma quem trocou sua roupa, toda bonitinha, olhe meu filho, esta aqui está melhor, fica mais bonitinho, uma coisinha fofa de verdade. E agradava, agradava, limpava, inclusive, o seu pau branquinho, meio duro ainda, como quem não quer querendo. Como era gostoso vê-lo nuinho sem pêlo, quando ia dormir ficava tesa, olhando algo, ai, ai... Depois o melaço escorrendo pelas pernas, minha-nossa-senhora! É nisso o que dá: tá vendo, não agüentei e foi um corre – corre de louco, puf!, puf!... Concordo que era uma quenga, gostava por demais de sexo, ficava em uma quentura dos diabos, imaginando a delícia de uma rola entre minhas pernas. Porém, depois, com o passar dos tempos, fui me endireitando, hoje sou uma mulher – pode-se dizer – respeitada, não sou mais uma não sei o quê, uma zinha qualquer, estou agora na minha vidinha limpa e pronto. Acho que mereço o perdão, sei lá... Vou ficar calada pra ver a reação dele”.







       
                  




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