Jurandyr Navarro
Mulher
do índio Poty, este conhecido, depois, por Dom Antônio Felipe Camarão. Receberam, ambos ensinamentos e a catequese de
padres da Igreja Católica, que evangelizaram o Brasil, nos primórdios da sua
formação histórica.
Clara
Camarão combateu bravamente os invasores batavos no vizinho Estado de Pernambuco à frente de um grupo de
guerrilheiras.
Assinala Domingos de Loretto,
citado no excelente livro "Personalidades Históricas do
Rio Grande do Norte", editado pela "Fundação José Augusto", que
Clara Camarão,"armada
de espada e broquel e montada a cavalo, foi vista nos
conflitos mais arriscados... com admiração dos holandeses e o aplauso dos nossos". Parecia ouvir, na
arrojada cavalgada, os cantos de guerra de uma nova Débora bíblica, incitando
todos à vitória.
Clara
foi destemida no combate armado, lembrando Artemira, capitã do formidável exército de Xerxes
- soberana de Halicarnasso, que tomou a chefia de cinco galeras, contra Atenas.
Verbete sobre Clara Camarão do livro "Dicionário Mulheres do
Brasil" (de 1.500 até a atualidade), (Scumaher e Brazil, 2000, pág. 160),
registra:
"Quando a sorte virou contra os portugueses, Clara
Camarão esteve na frente de batalha,
defendendo as posições militares e a
população civil, que, abandonando as propriedades, e as cidades, veio
refugiar-se atrás das linhas de Matias de Albuquerque, Felipe Camarão e
Henrique Dias (...) Na batalha de Porto Calvo, o comandante Henrique Dias foi
ferido, perdendo uma das mãos. Felipe Camarão assumiu o comando da tropa,
apoiado por Clara. Ela foi também uma das heroínas de Tejucupapo, no litoral
pernambucano onde as mulheres mostraram bravura na resistência ao domínio
holandês.
Fragmento de texto, citado por Rejane Cardoso, às páginas 163, do monumental
livro "400 Anos de Natal", editado pela Prefeitura, trecho extraído
do livro "Brasileiras Célebres" (Norberto Silva, 1862), expõe:
"Dona Clara Camarão não é uma
dessas descendentes dos conquistadores portugueses, que se pudesse vangloriar
de um nascimento ilustre, mas uma indiana gerada nos bosques brasileiros nascida na taba, ou rústica cabana,
levantada por seus pais, sobre a
rede de algodão, trançada por sua mãe, como indicava a tez avermelhada,
como dizia o perfil e os contornos de seu rosto, como denunciavam seus negros e
acanhados olhos, e seus cabelos corredios e espargidios pelos hombros".
Significando dizer que a sua origem é
genuinamente brasileira, de sangue indígena, da clã primitiva que primeiramente povoou as
terras; e, depois, moldou o caldeamento das três raças.
Foi assim o nascimento e a posterior atuaçâo corajosa e heróica
de Clara Camarão, a célebre Guerreira do Rio Grande do Norte. Assim se exibiu a vida
simples e altiva
da destemida e intemerata mulher potiguar, uma imagem marcante do nosso nativismo,
a primeira Mulher representante desse nativismo, entre nós, que é a "forma precursora
de nacionalismo, sentimento de aversão ao estrangeiro invasor, sentimento de estima e
amor ao meio nativo".
da destemida e intemerata mulher potiguar, uma imagem marcante do nosso nativismo,
a primeira Mulher representante desse nativismo, entre nós, que é a "forma precursora
de nacionalismo, sentimento de aversão ao estrangeiro invasor, sentimento de estima e
amor ao meio nativo".
A fibra hercúlea de Clara Camarão se compara à de Maria
Quitéria - a primeira Mulher (disfarçada de
uniforme) a participar em combate numa unidade militar no Brasil
- que, século e meio adiante,
tornou-se heroína no Recôncavo Baiano, na luta contra os
portugueses, pela Independência da pátria brasileira; tendo sido condecorada, no ano
de 1923, pelo então Imperador Dom Pedro I com a insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul. E, posteriormente, por Decreto do atual Governo Henrique
Cardoso, reconhecida como Patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército
Brasileiro.
portugueses, pela Independência da pátria brasileira; tendo sido condecorada, no ano
de 1923, pelo então Imperador Dom Pedro I com a insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul. E, posteriormente, por Decreto do atual Governo Henrique
Cardoso, reconhecida como Patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército
Brasileiro.
Ambas morreram no anonimato.
Igualmente lembra, a coragem
de Clara Camarão, à
revolucionária catarinense Anita Garibaldi
que, no século XIX, participou ativamente
da Revolta dos Farrapos e da campanha da unificação italiana. Anita, pela sua bravura na Batalha
Gianícolo, credenciou-se, na História, como mulher vocacionada para a carreira
das armas.
A bravura de Clara serviu de
exemplo às duas
brasileiras - à catarinense e à baiana, mencionadas - por elegerem, como desígnio de
vida, o signo de Marte.
Recebeu,
Clara Camarão, por sua conduta elogiável, do poder político vigente à época, distinções de regalias com título de Dona
e do Hábito de Cristo.
A sua coragem e audácia fizeram com que a nossa formação histórica
tivesse uma das suas páginas heróicas, escrita, também, com o generoso sangue
indígena.
O seu contributo valioso de
mulher desassombrada se impõe à admiração dos seus compatriotas do século vinte e um, como uma das
expressões individuais mais marcantes da história rio-grandense-do-norte.
MÁXIMO MEDEIROS
Natural do município
rio-grandense-do-norte de "Augusto Severo", da chamada tromba do elefante, fez os seus estudos iniciais
em ambiente social modesto; continuando, depois, na progressiva cidade
de Mossoró, deste Estado.
Desde cedo ostentou capacidade
intelectual, aprendendo com relativa facilidade as disciplinas dos cursos primário e ginasial.
Esse aprendizado capacitou-o a sua habilitação ao vestibular em Medicina, na
velha Faculdade do Derby, no Recife.
Esta foi
a prova de fogo, como se chama, de Máximo Medeiros
Filho, o potiguar de origem modesta que saiu do seu Estado para enfrentar os
formidáveis desafios da Ciência!
E saiu
bem neste primeiro teste, estágio limiar para atingir outros, no
Brasil e foradele.
O vestibular enfrentado por Máximo Medeiros foi o mais difícil até então realizado em Medicina, na
Mauricéia. Apenas dez por cento dos candidatos foi aprovado. E, mesmo assim,
enfrentando uma Banca com Bezerra Coutinho, examinando Biologia, ele, o humilde
potiguar, foi aprovado em oitavo lugar.
Daí em diante a vida de Máximo foi uma verdadeira odisseia, transpondo
obstáculos os mais
difíceis, numa jornada longa, perlustrando uma estrada juncada de espinhos.
Sintetizamo-la, através de algumas
passagens do livro intitulado: "Lembrando Máximo Medeiros Filho",do autor Carlos Ernani Rosado Soares, o seu
"amigo há quarenta anos".
Com a palavra, o erudito autor:
"O
campo dos radioisótopos lhe daria o renome internacional"^... )
'Tinha pendor pela Matemática e a Física". (...) A lição que Máximo Medeiros nos deu em vida continua após
a sua morte. Lição de capacidade
profissional, de cultura geral; porém, mais que tudo, lição de
humanidade: honestidade, caráter, bondade, simplicidade,
calor humano, tudo era transmitido por sua encantadora personalidade que se
impunha sem se fazer notar".
(...) Máximo veio para
Natal, prosseguir seus estudos, e o fez de modo caracteristicamente brilhante.
Eu me lembrava de tê-lo visto em uma fotografia, dessa época, ao lado de José
Eufrânio, Moacyr de Góes, Ubiratan Galvão e outros. E foi a Ubiratan que recorri, em função da amizade e parentesco
afim, obtendo dele o seguinte comentário:
'Máximo é um génio'.
Em 1962, conseguiu uma bolsa em
Radiobiologia na Universidade da Califórnia, através da Comissão Nacional de
Energia Nuclear. Ficaria no Donner Laboratory of Biophisics, de setembro deste ano a junho do seguinte. Foram propostos
sete candidatos e apenas três aceitos, tendo Máximo ficado em primeiro
lugar ( ... ) Insistia em receber velhos livros do Cónego Luiz Monte, de quem
era grande admirador, incluindo
57
um que ele sabia ter existência, de Biologia, e que teria sido
publicado para uso nos Seminários.( ... ) Enviava-me o Jornal Brasileiro de
Medicina Nuclear onde ele tinha trabalho publicado, bem como Separata da Ata
Hematológica, idem,idem. ( ... ) Em 1967 representou o Brasil em Viena, num
Simpósio Internacional sobre Dinâmica de Proteínas
Marcadas, e que em carta ressaltou: - 'Foi uma reunião de alto nível de
"set" internacional que trabalha atualmente em D. de P. M., se você
me permite falar assim. Basta dizer que estavam presentes McFarlane
(inglês, considerado presentemente a maior autoridade mundial em
gamaglobulina); Waterlow (um inglês extraordinário, de cachimbo na boca, daquele jeito que você bem conhece), Jeejeebhoy,
indiano, autoridade internacional em
assuntos relacionados com perda proteica por via gastrointestinal..."
São tópicos,
apenas, desse grande livro de Ernani Rosado que retrata o cientista Máximo
Medeiros, seu amigo e nosso conterrâneo, para orgulho do Rio Grande do Norte.
Ernani
Rosado, para quem não sabe, é um dos valores mais
destacados da Medicina Brasileira, sendo Membro
Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões; autor do Trabalho, dentre
outros, "Pós-operatório sem Antibioticoterapia Profilática".
O Doutor
Ernani Rosado foi aprovado em primeiro lugar no vestibular de Medicina, sendo o
melhor aluno da sua Turma e escolhido o seu Orador, na sua Diplomaçao como Médico, em Recife.
Ele e
Vingt-Un Rosado são os dois biógrafos do cientista
Máximo Medeiros Filho.
Como
frisou Ernani Rosado e adiante se verá nas paginas de
Vingt-Un Rosado, o que imortalizou o nome de Máximo Medeiros, na Comunidade
Científica Internacional, foi o de ter tomado parte integrante da Reunião, em
Viena, da Agência de Energia Atómica, em
outubro de 1967, aos trinta e seis anos de idade. Foi ele o único representante
do Brasil e um dos dois da América Latina.
A sua escolha foi feita,
pessoalmente, pelo Professor Ernest Belcher, então Dire-tor daquela
Agência científica internacional.
Conheci Máximo Medeiros no Recife. Foi meu contemporâneo de
Universidade. Ele, fazendo Medicina, e eu,
Direito. Terminamos o Curso no mesmo ano: 1956. O seu nome despontou, para nós, do Rio Grande do Norte,
desde o vestibular: havia a curiosidade de se saber os aprovados de
Natal. E Máximo estava na lista dos aprovados da famosa Faculdade do Derby, no
exame vestibular mais apertado da sua história, até então.
Passou-se o tempo. No início do ano de 1980, recebo dele, uma carta atenciosa, do Rio de
Janeiro, adiante transcrita, sobre um assunto científico estudado pelo Padre
Luiz Monte, inserido na Antologia por mim organizada, cujo teor se vê em
sequência, uma espécie de depoimento expressado por Máximo Medeiros em relação
ao saber científico do mencionado sacerdote, pertinente à Fisiologia.
Mesmo tendo vivido apenas
quarenta e nove anos de idade, Máximo Medeiros Filho
armazenou acentuado cabedal de conhecimentos em matéria científica, galgando, pelo
estudo, tenacidade e inteligência um lugar de destaque dentre os vultos
Notáveis do Rio Grande do Norte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário