21 de julho de 2016

O Princípio de todos nós


Bené Chaves

               Tudo começou com invencionices, partindo da premissa de que o universo fora criado em apenas uma semana. Se for verdade, o que eu não acredito, nunca soube de outra tamanha engenhosidade. Mas, deixa isso pra lá. Afinal de contas todas as coisas não passam de símbolos, ilusões e desilusões. E entre o fictício e o verdadeiro pode existir um curto caminho. Sei, porém, que a caverna abrigou a geração precípua, o labrego, primeiros sinais de desenvolvimento e adaptação aos costumes terrestres.
                 As pedras apareceram, os insetos se acasalaram e os rudes se mesclaram. E surgiu, então, o homo-sapiens. Depois emergiu a estória de Adão e Eva. Mas foi tudo somente estultícia, porque o primeiro homem comeu –não literalmente – a primeira mulher, claro. E eles, Adão e Eva, nunca souberam disso.
             Coisa de acasalamento dos tempos idos, selvageria de antanho, que, acho, não deve ser muito diferente da atual. Apenas diverge quanto ao meio ambiente.
              Não é mesmo tudo uma trapaça?
              Daí surgiram novos povos, a linguagem tomou impulso e aprenderam a cultivar a terra. E o chafurdo iniciou.
              Nada tenho a ver com feitos anteriores, suposições, superstições ou fés inabaláveis. Apenas acho que são calabouços que nos prendem ao infinito. Somos mesmos uns tontos a perambular algures, alhures, indefinidos e perplexos ante a magnitude de um universo em decomposição.
         Enquanto digo isso, em lugares estranhos à nossa percepção visual, acontecem as mais esquisitas façanhas, manhas e artimanhas. Milhões de pessoas morrem de fome, existe guerra, autodestruições, desespero, desamor e, conseqüentemente, a não solidariedade ao próximo. E o ser (dito) humano continua a trair seus semelhantes em farsas, hipocrisias e delações.
           O mundo, portanto, surgiu a emaranhar, a confundir e até a consagrar cousas, lero-lero e lousas. Em um arrebatamento contínuo também de mediocridade.  E o que eu sei? Posso dizer apenas que ele foi inventado e não criado.
            Nestas crônicas que reúno agora em um livro, pouca coisa foi criada de novo e algumas foram inventadas mesmo. Noutras, porém, houve uma mistura de ficção e realidade. E tudo começou quando eu inventei no ano de 1982 uma cidade chamada Gupiara e lancei em 1986 o livro ‘O que aconteceu em Gupiara’. Daí em diante ela se tornou a cidade de meus sonhos, de minha infância e da adolescência. Talvez a Natal da atualidade...
               Antes, porém, no ano de 1979, lancei o meu primeiro livro de ficção. ‘A explovisão’ reuniu alguns contos como uma experiência na arte de tentar escrever algo. Depois, já em 1984, publiquei outra coletânea, aqui partindo mais para a temática de interesse social. E surgiu ‘Castelos de areiamar’, fazendo eu uma mesclagem e mostrando relatos variados, desde a vida do povo sofrendo as intempéries da vida e também discorrendo acontecimentos da existência do mesmo. Era uma tentativa entre a realidade e a ilusão.
             Em 1986 publiquei o livro ‘O que aconteceu em Gupiara’, já mencionado aqui. Dei, então, um pulo de 11 anos e escrevi, no ano de 1997, uma pequena novela de cunho surrealista de nome ‘O menino de sangue azul’. Era mais uma tentativa do tal ‘realismo mágico’ e também com pretensões de mostrar certa inovação na parte literária. Tentei valorizar a estrutura narrativa com alguma criatividade na linguagem coloquial.
         No ano de 2001 publiquei o romance ‘A mágica ilusão’ e adentrei na autobiografia. Lembranças de minha infância, adolescência e o amor pelo cinema. Retratos do dia-a-dia, dramas cotidianos,  as ilusões e também os idealismos da juventude.
           Em 2003 tentei a poesia e publiquei ‘Cinzas ao amanhecer’, alguns poemas experimentais borbulhando entre o melancólico e o existencial. Temas da brevidade da vida, das impossibilidades e da temível velhice. E alguns versos também  sutilmente eróticos.
             Depois de dez anos, portanto, vão aqui cinqüenta textos  e que fazem parte do livro ‘Crônicas docemente amorosas’(2013),  contando pequenos episódios de uma experiência de vida minha, mas que também pode ser de todos vocês. Quem já não se deliciou ou se iludiu com grandes amores em suas vidas desde uma pré-adolescência? Quem não viveu uma infância de encantos e também atropelos? Porém muito tem de verdade mesmo em tudo que exponho, assim como de utopia e também de uma mesclagem entre um fato e outro. Afinal a vida se resume nisso, entre o imaginário e o autêntico.    
           Eis aí uma pequena amostragem dos livros que publiquei até o presente ano. As edições iniciais eu acho que é difícil alguém ainda encontrar por aí. Ficam as lembranças do que foi dito e não dito.

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