2 de junho de 2016

ALFREDO MESQUITA EM TRÊS TEMPOS



Valério Mesquita*

Uma vida pública exercida ao longo de mais de quarenta anos é impossível de ser memorizada de uma ou duas vezes. Quase sempre fatos isolados ou esquecidos emergem e são lembrados, aqui e acolá, por mentes privilegiadas que ajudam a moldar o perfil de quem já se foi, mas que deixou inesquecíveis lições de vida. Assim foi Alfredo Mesquita Filho, ex-prefeito de Macaíba (três vezes) e ex-deputado estadual também por três legislaturas.
Um traço predominante de sua personalidade era o despreendimento, o despojamento de bens materiais ou vantagens que lhes fossem, porventura, oferecidos. Esse legado grandi-eloquente de sua vida tive poucas chances de narrá-lo em várias notas biográficas que produzi, principalmente por ocasião do seu centenário de nascimento, ocorrido ano passado.
01) Integrava uma prole de seis irmãos herdeiros de um rico patrimônio em fazendas, rebanhos, lojas de tecidos e dinheiro quando sobreveio a morte do seu pai. Como não poderia deixar de ser, ocorreram inúmeras discussões e disputas entre os irmãos pelo espólio. Ao receber o seu quinhão percebeu que dois dos seus irmãos litigavam pessoalmente e na justiça, insatisfeitos pelo que lhes couberam. Numa atitude inusitada, ofereceu “de mão beijada” a sua parte na Loja Natal Modelo aos dois contendores e com isso sepultou a dissensão dos manos José e Vicente Mesquita.
02) De outra feita, lá pelo final dos anos quarenta, presenciou a firma Santos e Cia Ltda, pertencente ao seu grande amigo José dos Santos, atravessar seríssimas dificuldades de crédito alem de outros problemas que inviabilizavam a organização. Desfrutando de excepcional prestígio político e pessoal nos governos pessedistas de José Varela no Rio Grande do Norte e de Eurico Gaspar Dutra, Presidente, através de Georgino Avelino e João Câmara, conseguiu no Rio de Janeiro, capital da República, a recuperação econômica da empresa tornando-se credor da gratidão e do profundo reconhecimento da família Santos. Seu José, português, homem honrado e líder do grupo, convidou Mesquita para ser sócio da firma. “Não posso ser sócio se não tenho capital nem ações para tal objetivo”, foi a sua resposta. “O que você fez é bem mais do que todos esses papéis”, retrucou o velho José dos Santos. “Mas não posso aceitar”, concluiu Alfredo Mesquita e encerrou o assunto. Creio que Geraldo Ramos dos Santos e José dos Santos Filho conhecem o episódio.
03) No plano político, menores não foram os exemplos do seu desapego às ofertas ou benesses que pudessem lhe trazer vantagens ou significar se curvar aos poderosos. Lembro-me que, no governo de Aluízio Alves, em 1965, recebeu uma missão chefiada pelo economista Roosevelt Garcia com o fito de oferecer-me um cargo de fiscal de rendas em troca do abrandamento de sua atuação política no município para beneficiar a candidatura do Monsenhor Walfredo Gurgel. A resposta só não foi truculenta em respeito ao emissário que era um dos seus sobrinhos prediletos. E assim perdi a missão de arrecadar tributos. Ainda na política, acode-me a história do discurso explosivo de Carvalho Neto na praça pública de Macaíba em 1966 contra Francisco Seráfico e Mônica, adversários de Mesquita no plano municipal. Logo se formou um grupo hostil para agredir fisicamente o inflamado orador. Ao tomar conhecimento, Alfredo Mesquita deslocou-se  até o comício e ao lado de amigos formou uma muralha de defesa em torno de Carvalho Neto e foi deixa-lo em Natal, seguido por um comboio de automóveis. São e salvo.


(*) Escritor.

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