LLuiz G. M.
Bezerra
Torna-se
necessário registrar para a história como era praticado, no passado, o
“foot-ball” em Natal, com clubes fundados e formados por moços sonhadores e
vibrantes da melhor sociedade, que jogavam amistosamente entre si, antes do
aperfeiçoamento e melhor conhecimento daquele esporte nos clubes, suas regras,
arbitragens, escalações, formações das equipes e outras minúcias, bem como
fatos curiosos relacionados com o advento do “foot-ball”.
Era essa a
panorâmica do “foot-ball”, o novo e fascinante esporte que aparecia em Natal no
início do nosso século. Claro está que os dados a seguir ressentem-se de falhas
e lacunas, mas oferecem indicações aproximadas da realidade, e evidenciam que
nestes últimos anos houve um significativo avanço na prática daquele esporte em
Natal e em todo o Estado do Rio Grande do Norte.
As bolas
eram de couro costuradas em gomos, recebendo câmaras de ar de borracha, com
pito, quase sempre marca “Olimpic” n° 5 ou 3, fabricadas e trazidas da
Inglaterra, esporadicamente, por diminuto número de estudantes potiguares que
ali faziam cursos antes da “I Grande Guerra Mundial”, porém, quando furadas ou
estouradas, criavam grandes dificuldades para que outras fossem adquiridas,
obrigando os clubes a paralisarem suas atividades por longo tempo, ou
definitivamente. Os clubes mais humildes, que não eram poucos, quando tinham
estouradas as suas bolas, a situação era remediada adquirindo-se “bexigas de
boi”, no matadouro público, localizado no logradouro”Oitizeiro”, na subidfa
para a rua da Misericórdia, a fim de substituir a câmara de ar estourada por
alguns jogos, como era o caso do Alecrim Futebol Clube, uma agremiação ainda
muito modesta na época.
Os jogos
eram realizados em descampados existentes na cidade, como as espaçosas praças
publicas da rua Grande (André de Albuquerque); na campina da Praça Pedro Velho;
na Praça Pio X (Igreja Nova, atual Catedral Metropolitana); na esplanada Silva
Jardim, em frente as Docas do Porto, na Ribeira, ou ainda no Polígono de Tiro
Deodoro (ao pé do Morro do Tirol); no Cemitério Novo, hoje Vila Naval, no
Alecrim, e também na Solidão (imediações do Esquadrão de Cavalaria, hoje Escola
Doméstica, na avenida Hermes da Fonseca, no Tirol); no campo do Triangulo
(sítio Juvenal Lamartine, em Petrópolis); na primitiva praça da Capela de São
Pedro, Igreja de São Pedro, hoje Praça Pedro II, no Alecrim; no descampado ao
lado da hoje Policlínica; no oitão da Igreja do Rosário, Cidade Alta, e no
sítio da família de Julio Tinoco, na rua Olinto Meira, onde seus filhos Juarez,
Geno, Jano e Jarino eram “cracks”, além de outros pontos que eram descobertos
por pegadores de passarinhos, como na Baixa da Beleza, imediações da avenida
Quatro, no Alecrim.
Não havendo
ainda uma entidade para organizar disputas oficiais entre os clubes existentes,
as partidas eram levadas a efeito apenas amistosamente. Quarenta e oito horas
após o “desafio” para uma disputa amistosa, os clubes deveriam apresentar a
relação dos seus atletas para a disputa programada, sendo sugerido sempre um
“referee” (juiz) neutro, que não pertencesse aos quadros disputantes. As
partidas de futebol eram dirigidas por um “referee” que usava, quase sempre,
boné, calça comprida, camisa social e gravata, além de dois “bandeirinhas”
laterais e dois de fundo de campo ou linha de “goal”. Os juízes eram escolhidos
entre dirigentes de outros clubes ou pessoas de destaque na sociedade que
tivessem alguma noção das regras do “foot-ball”, como foi o caso de Alberto
Roselli, onde o esporte já se tornara conhecido, além de Julio Meira e Sá,
Sérgio Severo, Cincinato Chaves, Silvio Dantas e Frederico Holder, entre
outros. Registra-se que, posteriormente, quando já existia em Natal um Liga, o
desportista Loris Cordovil, foi transferido do Rio de Janeiro para a agência do
Banco do Brasil e aqui ingressou no quadro de árbitros da entidade, ele que
fora um dos grandes árbitros da entidade maior do “foot-ball” do Rio de
Janeiro, apitado com elogios, jogos a nível dos grandes clubes do sul do país.
Foi, talvez, o primeiro árbitro de fora que chegou a Natal.
Antes do
inicio dos jogos de “foot-ball”, eventos que tinham as vezes, a presença de
Chefes de Estado, intelectuais, autoridades outras e grande número de
“senhorinhas e mancebos” (como noticiava a imprensa da época), as bandas de
músicas da Associação dos Escoteiros do Alecrim, sob a batuta do mestre José
Gabriel, funcionário da ECT, e o contra-mestre Manoel Florentino de
Albuquerque, sargento da Polícia Militar, que contava com a participação ainda
dos jovens músicos Gil Soares e Moisés Pinto Meireles, hoje único sobrevivente,
e a Banda do Batalhão de Segurança (Polícia Militar), sob a regência do
sargento José Sinésio Freire, postadas num canto discreto do campo,
abrilhantavam as disputas com marchas e dobrados e, quando ocorria o lance do
“goal” válido, antes da bola chegar ao centro de campo para nova saída, o
regente ficava com “um olho no “referee” e outro nos músicos”. E sem demora,
autorizava a introdução do dobro ou marcha, cena que sempre se repetia quando
havia outro “goal”, momento maior da disputa. Os Chefes de Estado que
prestigiaram os primeiros passos do “foot-ball” foram Ferreira Chaves e Juvenal
Lamartine, e nos nossos dias Sylvio Piza Pedrosa.
Como o
“foot-ball” não era ainda bem conhecido, e não se tinha uma idéia correta a
respeito da sua necessidade para o aperfeiçoamento físico do atleta, as jogadas
mais bruscas faziam com que alguns julgassem que aquele não era o esporte
adequado e aconselhável para sua prática. Assim, os primeiros acidentes
ocorriam em campo, não foram bem recebidos pelos membros da pequena comunidade,
motivo porque por algumas vezes, foi repudiado por algum tempo por muitos.
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