30 de junho de 2015

SER UM JOVEM POETA


Felipe  
                                                                                         
                                                                                               
                                                                                      Anchieta Fernandes

       O jovem expressar sua juventude não é somente praticar esportes, namorar, jogar videogame, navegar na internet. É também tentar produzir literatura. No caso do jovem Felipe MB de Oliveira, natalense do Alecrim, nascido na policlínica de Natal em 08 de abril de 1989 (portanto, tendo completado 26 anos), bacharel em Ciências da Computação com mestrado em Engenharia Mecânica na UFRN, expressar sua juventude é seguir na vocação de poeta, produzindo poemas quase diariamente
      Está, portanto, entrando no sagrado território da poesia: “uma realidade complexa, que nasce da convergência da linguagem com a arte – quando a linguagem, como poiesis, elaboração simbólica do mundo, que está na origem de todas as línguas, recobra, através da arte, o seu poder primitivo, encantatório, de canto a celebração” (v. Benedito Nunes, em “A Poesia de Mário Faustino”, no livro “Poesia de Mário Faustino', Editora Civilização Brasileira S.A., 1966).   
      A tarefa não é fácil. Mas Felipe resolveu aceitar o desafio. Escreveu um livro , que é um exemplo de sua intuição verbalizada de um mundo articulado na desarticulação. Ou seja: nas contradições dialéticas: “Demônios grandes e poderosos,/ Demonstram seu poder e santidade.” Ou: “Eu sou pacifista/Embora eu ame batalhas, e às vezes matar...” (expressando aqui um sentimento que às vezes até pessoas religiosas  tem, mas não revelam em público).  
      Não se trata propriamente de uma redução fenomenológica. Suspendamos por ora o julgamento sobre ser demônio ou santo, ou sobre ser demônio e santo simultaneamente (afinal de contas Guimarães Rosa, através do seu personagem Riobaldo, já afirmara que “Diabo não há”), sobre ser pacifista e ter vontade de Matar. Mas... isto seria contradição? Acontece que, do ponto de vista da Natureza a contradição faz parte do seu em-ser, a Natureza é contradição , só passando a ser incontrastável quando é dominada pelo homem, através de aparelhamento técnico que adapta em beneficio dos seus interesses econômicos e biológicos.
      Além das contradições , elemento substantivo – um elemento adjetivo da poesia de Felipe é um certo tom gótico, exemplificável, por exemplo, pelo uso em alguns poemas da figura do lobo em associação com a presença da lua, peculiarizando o tema além do limite regional geográfico, já que o lobo é um animal que não existe no Rio Grande do Norte em vida livre.                                                                                                                 
      Em seu mergulho poético à sua memória introspectiva, os recursos temáticos do dizer de Felipe se diversificam: tom figurado do poema “Risos”, onde mostra a sucessividade rápida de estados de espírito; simplicidade de poemas como “Carta na Manga” e “Memorando de um Desejo”, quase um sentimento punk, de raiva e de irracionalidade no poema “Olhos Vermelhos”; gritos de revolta no poema “Justiça Injusta”; poemas de pura conotação social (o que se chamaria antigamente de “literatura engajada”) como “A Fadiga de Nossa Alma”.                                                                                                                                         

      Como Felipe MB de Oliveira ainda é um poeta muito jovem, espera-se que ele chegue a uma definição de temas e de estilo, para que a sua obra não se incruste em um processo de comistão. Pode caminhar com um olhar à cavaleiro sobre os estágios inferiores do comportamento humano, e igualá-los ao afã amalgamente da Natureza; ou trabalhar re-sonhos de beleza pura, acendendo astros pelos bulevares do cosmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário