O governador colonial do Rio Grande do Norte, Caetano da Silva Sanches, foi o doador do galo de bronze para a igreja de Santo Antônio
Anchieta Fernandes
O titulo
deste artigo e simbólico. Quer dizer que se está comparando a anjos, os
administradores do Rio Grande do Norte desde a época colonial, de Capitania
Hereditária; alguns que tiveram dignidade, honestidade e fizeram algo em
benefício do povo. Estar-se-à mencionando figuras impares da administração, já
falecidas, e que moram agora no coração de todo norte-riograndense que dá
crédito a estes atos de dignidade e cidadania, e que através deste artigo
conhecerão ou, talvez, relembrarão esses nomes gloriosos.
O começo é
com Caetano da Silva Sanches, que, segundo Câmara Cascudo, “tivera pela
primeira vez o título de Governador e não de Capitão-Mor, por provisão do
Governador de Pernambuco, D. Tomaz José de Melo.” Era um homem simples e amigo,
querido do povo, padrinho de inúmeros afilhados. Foi ele que, ainda segundo
Câmara Cascudo (V. “Historia do RGN”) doou o Galo de Bronze para a torre da
Igreja de Santo Antônio, “ainda empoleirado na cúpula de azulejos.” Ele
governou de 1790 até o dia 14 de março de 1800.
O quarto
Governador individual (porque, depois de Silva Sanchez existiram períodos em
que o governo do estado foi exercido coletivamente pelo Senado da Câmara) foi
Sebastião Francisco de Melo e Povoas. Segundo o livro “Capitães Mores e
Governadores do Rio Grande do Norte” (Vicente de Lemos e Tarcisio Medeiros) no
tempo do governo de Melo e Povoas (1812-1816) “as rendas da Capitania (...)
foram ótimas e aplicadas honestamente”. O Governador assistiu as primeiras
apresentações de fandangos em Natal, cantando a plenos pulmões o romance da Nau
Catarineta.
Após a
Proclamação da Independência do Brasil, por Dom Pedro I, a 7 de setembro de
1822, houve, pela carta de lei de 20 de outubro de 1823, uma mudança na forma
de governar, sendo então criadas as Províncias do Império do Brasil, e os
administradores deixando de serem conhecidos pelo titulo de Governador,
passando a serem conhecidos como Presidente da Província. O primeiro Presidente da Província do RGN foi
Tomaz de Araujo Pereira, assumindo a 5 de maio de 1824, recebendo o governo das
mãos do presidente da câmara de Natal.
De todos os
presidentes da província que houveram no Rio Grande do Norte, um dos melhores
foi o vigésimo, Antonio Bernardo de Passos. Como relatam Luis Eduardo Brandão
Suassuna e Marlene da Silva Mariz, em seu livro “História do RGN”, no governo
do vigésimo (1853-1857) o estado sofreu um surto epidêmico de Cólera Morbo, morrendo
mais de 2.500 pessoas. O Presidente Passos, “na defesa da população contra a
moléstia agilizou medidas enérgicas e objetivas.” Foi quando, inclusive, criou
o Hospital de Caridade, o primeiro de Natal.
Tirando o
Brasil do regime monárquico, a Proclamação da Republica, pelo Marechal Deodoro
da Fonseca a 15 de novembro de 1889
mudou novamente a forma de governar, passando as províncias a serem
designadas como Estados da Republica
Federativa do Brasil, e os administradores destes Estados voltando a serem
chamados como Governadores. O primeiro Governador Provisório Republicano do RN,
foi Pedro Velho. Mas o primeiro nomeado oficialmente por decreto de 30 de
novembro 1889, foi Adolfo Afonso da Silva Gordo.
Na edição do
Jornal “A’Republica”, de nº 29 (01/02/1890) percebe-se o interesse de Adolfo
Gordo para resolver as dificuldades do povo; pois em expediente oficial ele
constata a situação desesperadora do Estado devido à seca, e pede ao Presidente
da Comissão de Socorros Públicos de Mossoró que desista do pedido de
exoneração, pois “tão grave e a situação
atual deste estado pelo grande número de indigentes vitimas da seca, e falta de
amplos meios de socorro, que sou obrigado a pedir a todos os verdadeiros
patriotas, ate sacrifícios para auxiliarem-me nesse importante serviço.”
Adolfo Gordo
também estava atento a combater os vícios de negociatas e corrupções entre
empresários e governo. No mesmo Jornal publicava-se expediente onde o
governador encomendava ao Inspetor da Tesouraria da Fazenda providencias no
sentido de informar porque o cidadão Julio Furstemberg deixara de pagar os
impostos de 30% sobre a farinha de mandioca que importara para o Estado. E no
mesmo numero do jornal, o Governador tornava sem efeito ato de governante
anterior que isentará de impostos devidos outro comerciante.
No contexto
do que chamou “A Republica velha no RGN (1889-1930)”, e que ficou como titulo
do seu livro, publicado em 1989, Itamar de Souza destacou as realizações
administrativas e as personalidades de alguns governadores do Estado antes da
Revolução de 30. Um dos anjos dignos do período foi inegavelmente José Augusto
Bezerra de Medeiros. Segundo Itamar, “no poder, José Augusto conduziu-se como
homem simples e acessível a todos que lhe procuravam". Confundia-se com o
povo andando de bonde pelas ruas da cidade, Foi um governo de pacificação.”
E pioneiro.
Quando elaborou com a Assembleia Legislativa,
a Lei nº 660, de 25 de outubro de
1927, que regularizava Serviço Eleitoral do Estado, “atendeu aos apelos do
então Senador Juvenal Lamartine introduzindo
no art. 77 das Disposições Gerais o direito da mulher potiguar votar e
ser votada. Foi uma atitude pioneira, pois antecipou a própria Constituição
Federal, que só reconheceu este direito em 1932.” A atitude corajosa de José Augusto e Juvenal
Lamartine, e uma verdade, que no entanto a mídia e livros nacionais “esquecem
de mencionar”.
A grande
menina- dos- olhos de José Augusto foi a Educação Ao tomar posse como
governador, em Janeiro de 1924, a estatística dava um total de 15.048 alunos
matriculados na rede escolar estadual. Quando terminou o mandato em janeiro de
1928 o total de matriculas atingiu um numero de 17.560 alunos. Em seu governo,
criou mais de 50 escolas rudimentares, subvencionou quase todas as escolas
particulares, criou grupos escolares no interior. Teve também excelente ideia, criando
a Universidade Popular, destinada a instrução da classe operaria, com reuniões
periódicas.
A Revolução
de 30 implantou no Brasil a ditadura de Getulio Vargas. O Regime de Exceção,
após o golpe de 1937, passou a ser chamado pretensiosamente de Estado Novo.
Embora tenha sancionado medidas favoráveis ao povo (fixação do salário
mínimo, legislação trabalhista e
proteção ao trabalhador), o Estado Novo foi negativo com atitudes extremamente
desumanas (como, por exemplo, entregar Olga Prestes aos enviados dos assassinos
nazistas) .Os governantes estaduais sob o regime estadonovista eram os
Interventores.
Poder-se-ia
pensar então que não teriam existido “anjos dignos” no grupo dos Interventores
estaduais. Mas no RGN, existiu, sim, pelo menos um. Foi Miguel Seabra Fagundes.
Tendo sido desembargador do Tribunal de Justiça, foi afastado da alta
magistratura, provisoriamente, para assumir o cargo de Interventor Federal no
RGN, o qual exerceu nos anos 1945 e 1946, Escrevendo sobre ele, em um dos
ensaios biográficos do livro “400 nomes de Natal”, o também desembargador
Manoel Onofre Jr. disse o seguinte:
“À frente da
interventoria, imprimiu austeridade à administração pública, havendo,
inclusive, acabado com todas as mordomias.
A respeito desta postura, comentou: ‘Me parecia um desaforo que somente
por que interventor eu passasse a ter os meus gastos domésticos custeados pelo
dinheiro do povo.’ Dentre outros atos seus administrativos,dignos de menção,
estão a criação do Serviço de Assistência a Psicopatas, e a transformação do
Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda em Departamento Estadual de
Informações.
A outra
pretensa revolução, que é como os
militares chamam ainda hoje o Golpe Militar aplicado a 1 de abril 1964 no
Brasil, derrubando o governo do Presidente João Goulart, cooptou políticos em
geral em todos os Estados do Pais. Por isso alguns anjos dignos, as vezes
passam por demônios, por terem feito concessões à ditadura militar de 1964,
para obterem a chance de fazerem algo pelo povo Um exemplo foi Dinarte de
Medeiros Mariz, seridoense de Serra Negra do Norte, que governou o Estado de
1956 à 1961.
Ele criou a
Universidade Estadual (depois federalizada), o Tribunal de Contas; deu o ponta
pé inicial para a implantação no Estado da Energia de Paulo Afonso, reabriu o
jornal A República, fechado há vários anos. Embora bastante ligado ao regime
militar dos anos 60/70, Dinarte apoiou Djalma Maranhão quando o ex-prefeito de
Natal foi tirado do exercício da administração de Natal. No livro “Dinarte 80
Anos” publicado pelo Senado em 1983, a
viúva de Djalma, Dona Dária Maranhão, contou que Dinarte foi “a primeira
presença solidaria.”
Outro governo
potiguar a se destacar durante a ditadura militar foi o de Tarcisio Maia,
(1975-1979). Ele criou as Secretarias da Indústria e Comércio, do Trabalho e
Bem Estar Social e dos Transportes e Obras Públicas. Mandou construir em Natal
a Via Costeira. Implantou no Estado o Plano Nacional de Controle da
Esquistossomose. Desenvolveu o Programa Logos II, “oferecendo condições as professoras
primárias a se capacitarem de novas técnicas para o ensino’’ (V. o livro “Da
brejeira ao rabo de palha – uma historia dos governos do RN”) de José Airton.
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