10 de novembro de 2013

Somos Invisíveis?



Salete Pimenta Tavares

“Homem Invisível” é o título de um livro do escritor americano Ralph Ellison, publicado em 1952, (reimpressão em 2006), o qual na ocasião surpreendeu o mundo literário norte-americano, por se tratar da história da segregação racial dos Estados Unidos, revelando a dor da existência do homem negro num mundo branco. O personagem se torna invisível para os brancos racistas, para os brancos emancipadores e para os próprios negros radicais. O livro deu origem a um filme igualmente famoso, com o mesmo título do livro. Hoje, o livro é considerado pela crítica uma obra prima, talvez a melhor obra afro-americana de todos os tempos. Foi distinguida com o importante National Book Award e consagrou Ralph Ellison como um dos autores mais marcantes do Século XX. Está publicada em mais de vinte países. (v. pesquisa Internet).
Existe também um outro livro com o título “O Homem Invisível” do escritor H.G.Welis. Na história o protagonista se torna completamente invisível, após uma experiência parcialmente bem-sucedida.
A respeito dessa invisibilidade constante do livro de Ralph Ellison, necessário se faz uma reflexão sobre o assunto. Quantos de nós, já parou para fazer esse questionamento: Sou invisível? Ou estou invisível? É o que nos acontece muitas vezes quando entramos numa loja e o atendente nos ignora, mesmo estando desocupado ou conversando com os outros atendentes. Outras vezes em frente ao balcão de uma companhia aérea, tentando saber se o vôo está no horário, ou ainda, em repartições públicas à procura de informações e as pessoas que ali estão simplesmente ignoram a nossa presença. E aí mais uma vez nos indagamos: será que não estão me vendo? Será que estou mesmo invisível? E é realmente como se fôssemos invisíveis.
Diante disso, um estudante de sociologia, tentando conhecer o comportamento das pessoas nas ruas, a atenção e o valor que dão aos transeuntes, se vestiu de forma bem simples, como um trabalhador braçal, numa das avenidas da cidade de São Paulo e, surpreendentemente percebeu que não era notado. Todos passavam, cruzavam seu caminho, seguiam em frente até mesmo alguns conhecidos e amigos não o conheceram, ou melhor não notaram a sua presença. Ele havia se transformado em um homem invisível. Depois ele mudou de tática: vestiu-se de terno e gravata, com uma pasta de executivo na mão e tudo mudou: era visto e cumprimentado por todos, inclusive por alguns conhecidos e amigos que diziam: “Nossa, há quanto não o vejo”. (v. Revista Brasil Cristão – Ano 17 – Nº 194 – setembro – 2013).
Aqui em Natal também aconteceu algo parecido. Um padre, professor de religião no Colégio “Paula Frassinetti”, (eu era sua aluna na época, mas não lembro o seu nome, só me lembro do fato) necessitando de uns documentos, procurou uma das repartições públicas para resolver o problema. Após o contato com a funcionária (ou funcionário), explicando o que o levou àquele local, pediram para ele sentar e esperar um pouco. Esse pouco já durava mais ou menos uma hora, e como ele precisava resolver o problema com certa urgência, voltou a sua casa, vestiu a batina de padre e retornou à repartição. Surpreso, ele foi chamado de imediato pelo mesmo funcionário que o havia atendido anteriormente. Daí, o velho provérbio: “O hábito não faz o monge” passa a ter outra conotação: “O hábito faz o monge, sim”, e, muitas vezes chega a ser determinante para que alguém seja reconhecido e valorizado na sociedade.
E, se formos analisar essas situações, veremos que, quase todos nós nos movemos no mundo sem darmos atenção aos demais. Caminhamos olhando alheiamente números, nomes de ruas, veículos, etc. esbarrando nas pessoas, pisando nos pés alheios, derrubando embrulhos, livros, mochilas, quando não as próprias pessoas, sem nos darmos conta de suas presenças, e continuamos em frente ao encalço dos nossos objetivos, sem sequer voltar para pedir desculpas.
Outro exemplo dessa indiferença é quando se abrem as portas dos coletivos urbanos, dos trens de passageiros, os famosos metrôs, e as pessoas descem e saem correndo como se fossem apagar algum incêndio, logo adiante.
O fato é que no mundo atual, apesar de termos vizinhos, muitas vezes não os conhecemos e eles passam ao nosso lado nas ruas, nos encontramos em salas de cinema, em hospitais, em consultórios médicos, e não os vemos. Será que alguém já se deu ao trabalho de se perguntar, como tais homens invisíveis nos olham? O que pensam de nós? Se, julgam tudo isso como natural? Como se a vida fosse assim mesmo? È o “TER” acima do “Ser”.
Dom Murilo Krieger, scj, Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil, numa entrevista a Revista “Brasil Cristão”, acima citada, disse a seguinte frase: “Acolher tais “homens invisíveis” não é, pois, mera questão de boa educação: é questão de amor. E do amor (ou de sua falta) nascem conseqüências que terão repercussão na eternidade”.


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