Salete Pimenta Tavares
“Homem Invisível” é o título de um livro do escritor americano
Ralph Ellison, publicado em 1952, (reimpressão em 2006), o qual na
ocasião surpreendeu o mundo literário norte-americano, por se
tratar da história da segregação racial dos Estados Unidos,
revelando a dor da existência do homem negro num mundo branco. O
personagem se torna invisível para os brancos racistas, para os
brancos emancipadores e para os próprios negros radicais. O livro
deu origem a um filme igualmente famoso, com o mesmo título do
livro. Hoje, o livro é considerado pela crítica uma obra prima,
talvez a melhor obra afro-americana de todos os tempos. Foi
distinguida com o importante National Book Award e consagrou Ralph
Ellison como um dos autores mais marcantes do Século XX. Está
publicada em mais de vinte países. (v. pesquisa Internet).
Existe
também um outro livro com o título “O Homem Invisível” do
escritor H.G.Welis. Na história o protagonista se torna
completamente invisível, após uma experiência parcialmente
bem-sucedida.
A
respeito dessa invisibilidade constante do livro de Ralph Ellison,
necessário se faz uma reflexão sobre o assunto. Quantos de nós, já
parou para fazer esse questionamento: Sou invisível? Ou estou
invisível? É o que nos acontece muitas vezes quando entramos numa
loja e o atendente nos ignora, mesmo estando desocupado ou
conversando com os outros atendentes. Outras vezes em frente ao
balcão de uma companhia aérea, tentando saber se o vôo está no
horário, ou ainda, em repartições públicas à procura de
informações e as pessoas que ali estão simplesmente ignoram a
nossa presença. E aí mais uma vez nos indagamos: será que não
estão me vendo? Será que estou mesmo invisível? E é realmente
como se fôssemos invisíveis.
Diante
disso, um estudante de sociologia, tentando conhecer o comportamento
das pessoas nas ruas, a atenção e o valor que dão aos transeuntes,
se vestiu de forma bem simples, como um trabalhador braçal, numa das
avenidas da cidade de São Paulo e, surpreendentemente percebeu que
não era notado. Todos passavam, cruzavam seu caminho, seguiam em
frente até mesmo alguns conhecidos e amigos não o conheceram, ou
melhor não notaram a sua presença. Ele havia se transformado em um
homem invisível. Depois ele mudou de tática: vestiu-se de terno e
gravata, com uma pasta de executivo na mão e tudo mudou: era visto e
cumprimentado por todos, inclusive por alguns conhecidos e amigos que
diziam: “Nossa, há quanto não o vejo”. (v. Revista Brasil
Cristão – Ano 17 – Nº 194 – setembro – 2013).
Aqui em
Natal também aconteceu algo parecido. Um padre, professor de
religião no Colégio “Paula Frassinetti”, (eu era sua aluna na
época, mas não lembro o seu nome, só me lembro do fato)
necessitando de uns documentos, procurou uma das repartições
públicas para resolver o problema. Após o contato com a funcionária
(ou funcionário), explicando o que o levou àquele local, pediram
para ele sentar e esperar um pouco. Esse pouco já durava mais ou
menos uma hora, e como ele precisava resolver o problema com certa
urgência, voltou a sua casa, vestiu a batina de padre e retornou à
repartição. Surpreso, ele foi chamado de imediato pelo mesmo
funcionário que o havia atendido anteriormente. Daí, o velho
provérbio: “O hábito não faz o monge” passa a ter outra
conotação: “O hábito faz o monge, sim”, e, muitas vezes chega
a ser determinante para que alguém seja reconhecido e valorizado na
sociedade.
E, se
formos analisar essas situações, veremos que, quase todos nós nos
movemos no mundo sem darmos atenção aos demais. Caminhamos olhando
alheiamente números, nomes de ruas, veículos, etc. esbarrando nas
pessoas, pisando nos pés alheios, derrubando embrulhos, livros,
mochilas, quando não as próprias pessoas, sem nos darmos conta de
suas presenças, e continuamos em frente ao encalço dos nossos
objetivos, sem sequer voltar para pedir desculpas.
Outro
exemplo dessa indiferença é quando se abrem as portas dos coletivos
urbanos, dos trens de passageiros, os famosos metrôs, e as pessoas
descem e saem correndo como se fossem apagar algum incêndio, logo
adiante.
O fato é
que no mundo atual, apesar de termos vizinhos, muitas vezes não os
conhecemos e eles passam ao nosso lado nas ruas, nos encontramos em
salas de cinema, em hospitais, em consultórios médicos, e não os
vemos. Será que alguém já se deu ao trabalho de se perguntar, como
tais homens invisíveis nos olham? O que pensam de nós? Se, julgam
tudo isso como natural? Como se a vida fosse assim mesmo? È o “TER”
acima do “Ser”.
Dom
Murilo Krieger, scj, Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do
Brasil, numa entrevista a Revista “Brasil Cristão”, acima
citada, disse a seguinte frase: “Acolher tais “homens invisíveis”
não é, pois, mera questão de boa educação: é questão de amor.
E do amor (ou de sua falta) nascem conseqüências que terão
repercussão na eternidade”.
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