13 de setembro de 2013

Viajando através das letras – 5


Anchieta Fernandes

Como os comentários anteriores desta série de artigos já focalizaram alguns livros de autores potiguares que narraram viagens a alguns países da Europa, este quinto artigo, abordando o livro “Souvenir de Viagem, passeando no Velho Mundo, apreciando História, Música e Arte”, da escritora cearamirinense Maria das Graças Brandão Soares, deixa de lado os países já incluídos nas viagens dos autores dos livros anteriormente comentados. Embora Gracinha os tenha visitado também, deixando o respectivo registro no livro, de como foi a viagem dela pelos referidos países, o que viu, o que sentiu e o que apreciou.
Portanto, comentarei agora o que está dito no livro dela sobre os outros países que não estão nos livros comentados anteriormente, além de países asiáticos, que ela visitou igualmente, deixando deles flagrantes interessantíssimos, enriquecendo mais o que, poder-se-ia dizer, seria o olhar potiguar através da janela do grande mundo além Rio Potengi. O importante no estilo de escrever de Gracinha (daqui em diante, no decorrer do artigo, assim a chamarei, abreviadamente, como ela própria assinou o poema “Agradecimentos” numa das folhas iniciais) é que ela soma a informação puramente turística a registros com toques mais culturais.
O livro “Souvenir de Viagem” (publicação pela Gráfica Santa Maria em 2009) é belíssimo, não somente pelo estilo gostoso de escrever da autora, mas também pela fartura de ilustrações (muitas fotos mostrando paisagens, objetos curiosos, pessoas, brinquedos, cores, animais, luzes, cenas de apresentações artísticas, selos, bilhetes de ingressos a museus), demonstrando um compartilhar com o leitor aquelas fotos do que ela cuidadosamente selecionou para a sua coleção de souvenires de viagem. Que, aliás, começam pela terra natal da escritora Gracinha, Ceará-Mirim, e pela capital do nosso Estado, Natal, que também merecem capítulos iniciais do livro, provando que a viagem dela pelo estrangeiro não a fazem esquecer das suas raízes.
O livro é muito bem organizado, muito bem estruturado, subdivididos os capítulos em nove arquivos temáticos: Apresentação pela filha da autora, Stephanie Soares, que diz do método de Gracinha na escrita de livros de viagem: “são enumerados conceitos próprios de viajar bem, colhidos em sua experiência de viajante contumaz e exímia observadora, oferecendo uma imersão na história local e uma gama seleta de dicas sobre museus, pontos turísticos, gastronomia e, em uma quase simbiosw entre o cultural eo ptofano, lista ainda os locais para compras (...)”; e o arquivo “Apresentação” contém ainda fac-símile de um bilhete carinhoso de Bia, neta de Gracinha.
Os outros arquivos são: Prefácio; Canta tua aldeia (textos sobre Ceará-Mirim e Natal); Atravessando o Atlântico (textos sobre o Vaticano, Itália, Áustria, Alemanha, Holanda, Espanha, Mônaco, França, Grã-Bretanha, República Tcheca, Hungria, Rússia, Suíça e Bélgica); Um roteiro multicultural (textos sobre Portugal, Espanha, Itália, Áustria, Alemanha e França); as minhas sete maravilhas (textos sobre Escandinávia, Canadá, Japão, Chiana, o Velho Mundo, Indonésia e o Incognoscível; Dicas (contendo; Dicas para uma viagem sem stress; e Viajando em excursão); Créditos e Fontes de Referência. Entre as várias citações (de Bob Thiele a P.F.Webster) e os impagáveis momentos de humor, farei agora a viagem com Gracinha.
Se a Áustria de Strauss, conforme Gracinha escreve, “é conhecida pela sensibilidade musical (as românticas valsas vienenses)”, também lá se realiza um dos grandes festivais musicais do mundo, o Salzburger Festipiele, na cidade de Salzburgo, apresentando óperas, concertos de música erudita, além de peças de teatro. Outro gênio da música também nasceu na Àustri, na cidade de Salzburgo: Wolfgang Amadeus Mozart. Das obras dele, Gracinha gosta bastante da Sinfonia nº 40 em Fá Menor, chamando-a no livro de “divina, indescritível.” Mozart é homenageado na Áustria, com sua figura estampada em embalagens de chocolates, licores, instituições, hotéis, restaurantes, bares, caixinhas de música.
No livro “Souvenir de Viagem”, importante se ler também o capítulo dedicado a Mônaco, “considerado o menor pa´s da Europa”, abrangendo o seu território menos de 1.900 quilômetros . É um principado. Nos anos cinquenta do século passado, o Príncipe Regente Rainier III casou-se com a estrela do cinema ianque Grace Kelly. Dentre os filhos que tiveram, lembre-se Caroline e Stephanie, que inspiraram Gracinha a botar os nomes de suas filhas, justamente Stephanie e Caroline. Em Mônaco, os cidadãos não pagam impostos, nem prestam serviço militar. No pequeno país, na capital, Monte Carlo, realiza-se anualmente a corrida de carros Grande Prix de Fórmula 1, onde tantas vezes Ayrton Senna brilhou.
Gracinha também conheceu o Leste Europeu, “em excursão, saindo de Viena em direção a Budapeste, Bratislava e Praga, capitais da Hungria, Eslováquia e República Tcheca. Escreve a escriyora ceara-mirinense, com seu encantador estilo, sobre a “República tcheca de Franz Kafka”, depois de esclarecer que a região vivia “em plena recuperação econômica”, e portanto era “guardiã de um valioso histórico: castelos, cidades medievais, museus, pontes, catedrais, paisagens bucólicas, um próspero centro cultural. Apreciamos da janela do ônibus quilômetros de campos dourados de trigo, milho e girassóis, fazendo lembrar as famosas telas de Van Gogh e o filme Os Girassóis da Rússia.”
Sobre a “Hungria de Liszt” (algumas vezes, sobre cada cidade ou país visitado que motivam um capítulo do livro, Gracinha junta no título do capítulo, ao nome da cidade ou país, outro nome simbólico, seja o de um artista ou personagem célebre, seja o de um monumento que é referência turística), Gracinha fala descrevendo o city tour em Budapeste, que “é geralmente feito a pé, a melhor maneira de apreciar a velha arquitetura da cidade, suas igrejas, monumentos e praças. À noite, um show folclórico, para apreciar a música e adança cigana, provar da sua culinária, degustar o clássico goulash, uma espécie de ensopado de carne com legumes, temperado com páprika (tempero de sabor apimentado).
Depois dos pequenos países do Leste Europeu, Gracinha chegou ao grande país, de tanta história política e cultural: a Rússia, também das matrioskas, que são as populares bonecas artesanais vendidas aos turistas. Segundo informa a escritora, é um país formado por 21 repúblicas e 80 etnias; é o maior do mundo em extensão territorial, com 11 fusos horários. Gracinha visitou Moscou e a São Petersburgo de Gostoievski. Dá informações sobre a Praça Vermelha, o prédio do Kremlin, “onde se reúne o governo”; o Mausoléu de Lenin; a Catedral de São Basílio; o extenso metrô, com 170 luxuosas estações; a estátua de Karl Marx, com a célebre frase: “Proletários de todo mundo, uni-vos”.
São Petersburgo, que foi também Leningrado, é “a concretização do sonho faraônico do Czar Pedro, O Grande.” Cidade de veraneio do czar, foi embelezada com magníficos edifícios, 270 largas avenidas, 28 pontes elevadiças, 46 museus e 5 teatros. Gracinha escreve: “fanática por museus, visitei o Hermitage, antiga residência dos czares, que reúne a maior coleção de artes do país, um dos melhores do mundo, realmente fabuloso.” O museu foi inaugurado em 1852, no Palácio de Inverno, totalizando cinco prédios contíguos, 1.057 salas, em estilo barroco.” Foi neste museu realizado um filme pioneiro em 2002, “Arca Russa”, de Aleksandr Sokurov, estruturado em um único plano-sequência, sem cortes.
Para mostrar a visão do livro sobre a Escandinávia (região ao norte da Europa que compreende os países Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia), é necessário transcrever trechos iniciais do texto sobre o arquivo “As minhas sete maravilhas”, onde Gracinha revela a sua preferência pessoal por estes países: “Sempre me perguntam dos países que conheci de qual mais gostei ou com qual mais me identifiquei e foram tantos que decidi então fazer uma seleção, denominando-a de Minhas sete maravilhas do mundo, não necessariamente por essa ordem ou linha cronológica e sim uma lógica de valores meramente particulares.” Então, ela se refere ao conjunto de países da Escandinávia:
“O mais fantástico conjunto de países que visitamos e que incluo como a primeira das Sete Maravilhas, de todas as nossas viagens.” Antes de falar sobre cada país em particular, ela lembrou características geográficas e climáticas da região: “solo recortado com incontáveis rios, lagos, ilhas, montanhas cobertas de neve, florestas coníferas, as intermináveis noites claras e noites longas.” Começou sua visita pela Dinamarca, cuja capital, Copenhague, “lembra sabores (chocolate e pão) e filosofia.” E lembra também Hans Christian Andersen, nascido ali, e autor do famoso conto infantil “A pequena sereia”, inspirador do artista Edward Ericksen, que em 1913 esculpiu a estátua da personagem.
Na Noruega, terra do teatrólogo Henrik Ibsen e do compositor Edward Grieg, Gracinha visitou o Troldhaugen, traduzido como colina dos Trolls (espécie de gnomos que habitam as florestas e o imaginário norueguês)(...).” Conheceu os fiordes, ruas medievais, as casinhas coloridas de Bryggen, o Parque Museu Vigeland, o Museu do Barco Viking, o tradicional artesanato de lã e madeira, estação de esqui, além de “altas montanhas com queda dágua caindo das encostas, e um preguiçoso sol que prolonga seus raios até meia noite, produzindo o chamado “sol da meia-noite”, fenômeno único no mundo.” Excursionou ao Glacier Briksdal, uma “espécie de tapete de gelo que chega a atingir até 400 metros de neve.”
Em Estocolmo, capital da Suécia, e uma espécie de “Veneza do Norte”, já que é composta de 30% de água, e é cortada por pontes e canais, Gracinha visitou o Salão Azul, da Prefeitura, “um prédio estilo veneziano, onde é entregue, anualmente, o Prêmio Nobel da Paz.” A Finlândia, país situado entre a Europa Oriental e Europa Ocidental, foi o último país da Escandinávia que Gracinha visitou. Helsinque, a capital, “sofre bastante com o rigor do inverno, a ausência prolongada do sol, responsável pelo ar cinzento da cidade, cuja temperatura, mesmo no verão, é bastante fria.” A Lapônia, uma das regiões do país, é onde mora Papai Noel, com endereço certo na cidade de Rovaniemi, onde pode receber cartas.
Um país da América que foi ponto de visita de uma das viagens de Gracinha foi o Canadá. Ela dedica, no livro “Souvenir de Viagem”, cinco páginas ao país da Real Polícia Montada, “com suas fardas vermelhas e garbosos cavalos”, escreve a escritora. Para definir resumidamente o Canadá, basta uma das frases entusiasmadas de Gracinha: é um país, “onde há fartura de espaço, profusão de minérios, uma incrível abundância de água pura e terras férteis, segurança, justiça e riqueza.” E beleza: “Visitamos Victória Island em um tranquilo passeio de ferry boat, apreciando um exagero da natureza: mar, verde, flores.” E paz: no vilarejo de Banff, “dóceis alces pastando na praça.”
Dos países da Ásia, Gracinha registra no livro suas visões, impressões e opiniões sobre o Japão, China e a Ilha de Bali, no arquipélago da Indonésia. A visita ao Japão, Gracinha o fez acompanhada do marido Célio, pois diz inicialmente que este passeio ao país do sol nascente, foi “um sonho realizado, do meu marido e meu também.” De tudo o que ela escreveu, com estilo ímpar, sobre o Japão, em quatro páginas e meia, basta, em um resumo, dizer que ela destacou a educação, a limpeza, a discrição e a hospitalidade do povo japonês, e a interessante harmonia entre o tradicional (exemplo: indústria de leques e quimonos) e o moderno (indústria de informática).
A visita à China, incluindo o passeio a Hong Kong, que durante muito tempo foi uma cidade pertancente à Grã-Bretanha – apesar de ser a “realização de um sonho juvenil, conhecer de perto, a magnitude de sua cultura e a Grande Muralha” – proporcionou inicialmente algumas decepções à escritora: “confesso ter tido má impressão, logo no desembarque, nosso primeiro desencanto: aeroporto precário, funcionários mal-humorados, cães farejadores, soldados armados, nos observando com desconfiança (...).” Mas Gracinha também afirma, educadamente: “continuo enternecida com a delicadeza dos artigos chineses, inspirados na natureza.”
Com a sensibilidade artística de que é dotada, o que mais agradou a Gracinha na Ilha de Bali foi a vivência constante do povo com a prática da arte: “A arte está em todo lugar da ilha (...). Interessante ver adultos e crianças envolvidos com a arte, pintando, esculpindo, tecendo, tranquilos nos terraços de suas casas (...). Assistimos a uma apresentação da Dança Barong (...) interpretada por graciosas e exóticas bailarinas, ricamente vestidas, exibindo uma harmoniosa e dramática performance, misto de dança e rito religioso. O som dos instrumentos rústicos é sincronizado com a suavidade dos movimentos das dançarinas (...). Pintura, música, teatro, festas (...).”
Não dá, em apenas um artigo para jornal, transmitir toda a riqueza de informação e prazer literário contido no livro “Souvenir de Viagem”, de Maria das graças Brandão Soares. Cabe apenas, ao articulista, tentar fazer uma publicidadezinha: comprem o livro de Gracinha, que sua imaginação se soltará deslumbrando-se com cores, sons, cheiros, sabores e climas deste planeta nosso que mereceria ser mais bem cuidado. Não deixem de sublinhar atentamente no livro a parte das dicas para uma viagem sem stress, pu sobre “viajando em excursão”, onde aprenderá como tratar os habitantes de cada país visitado, para não cometer gafes.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário